Viver é um hábito. Hábito é rotina. Porque então a rotina é vista como algo ruim? Essa pergunta normalmente ronda meus pensamentos. Por alguns anos me declarei avessa a rotina. Hoje a abraço e anseio por sua estabilidade e afeto. Comecei a rever meus conceitos sobre rotina quando fui mãe. Mãe nova e solo, ganhei da minha mãe um livro que falava o quão importante era a rotina para recém-nascidos. Seguindo aquelas premissas, adaptei a minha realidade e estabeleci horários para Matheus: mamadas, sono, banhos, brincadeiras e estímulos. Percebi alguns ganhos esperados: eu tinha tempo de comer e dormir, conseguia cuidar dele, ele dormia bem e não teve cólicas. Outros ganhos inesperados: ao sair para o pediatra, eu projetava quanto tempo que queria para ir e voltar e o que precisaria levar de fraldas e brinquedos. Pude responder corretamente as pessoas que queriam ir visitar-nos. Assisti Matheus ser um bebê tranquilo e se desenvolver bem. Os anos foram passando e deixei de lado muitos desses conceitos. Alguns permaneceram. Quando eu mesma me vi com problemas de saúde, retomei o hábito da rotina que me fez passar pelo caos dos últimos anos de isolamento. De lá para cá, percebo amigos e colegas de trabalho sofrendo consequências emocionais e de saúde por tudo o que viveram. De minha parte, posso me declarar sortuda de ter revisto minha rotina a tempo, de ter ganhado uma segunda chance. A rotina que estabeleci e vivo hoje, me mantem na linha, com olhar fixo nos meus objetivos, sem espaço para decisões aleatórias, mas cada uma me alinha a onde pretendo chegar no futuro.
Luciana Medeiros Especialista em gestão estratégica, observadora do comportamento humano e da vida
Foto: Freepik