É com profunda preocupação que abordo o tema da crescente violência em Manaus. Atualmente, nossa cidade figura de forma negativa no ranking das cidades mais violentas do país, ocupando o 4º lugar. Essa triste realidade reflete agravantes estatísticos que espelham diretamente o que enfrentamos em nosso cotidiano.
A capital amazonense encontra-se em uma situação alarmante, sofrendo consideravelmente com a falta de políticas públicas eficazes no combate à violência que assola os bairros mais vulneráveis, que, lamentavelmente, estão sob o domínio de diversas facções criminosas. Essas organizações ilícitas impulsionam ações criminosas e elevam os índices de violência a patamares comparáveis a cidades afetadas por conflitos armados severos.
O fator socioeconômico desigual é um dos elementos que agravam esse cenário de violência. De maneira não fortuita, os homicídios se concentram nas áreas mais carentes da cidade, impactando de forma mais intensa a população menos favorecida desses locais. Indivíduos que frequentemente são desassistidos por políticas públicas que deveriam estimular a melhoria de suas condições pessoais.
É ainda mais preocupante quando, à desigualdade, se somam fatores segregadores como racismo, homofobia e xenofobia, criando uma conjunção perigosa que agrava ainda mais o quadro de violência.
Infelizmente, nossos governantes tendem a dissociar as políticas de segurança pública das políticas de educação, o que vai de encontro à lógica do mundo real. As políticas educacionais, profissionalizantes, esportivas e ocupacionais revelam-se, inegavelmente, mais eficientes no combate à violência e ao tráfico de drogas do que a repressão pura e simples por parte das instâncias de segurança pública, que frequentemente se veem em uma rotina caótica de lidar apenas com os efeitos, e não com as causas.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), ligado à ONU, já evidenciou em seus estudos a importância de garantir o direito à educação como estratégia eficaz para a proteção da vida e a prevenção da violência urbana. Pesquisas apontam que, na maioria das vezes, os jovens vítimas de homicídio estão fora da escola ou prestes a abandonar os estudos. É alarmante que o Brasil ocupe o 5º lugar entre os países da América do Sul e do Caribe com maiores taxas de homicídios de adolescentes: são 59 mortes a cada 100 mil habitantes. De cada 10 meninos de 15 a 19 anos que perderam a vida no Brasil, seis foram vítimas de homicídio. Esse cenário alarmante só tende a crescer, e é imperativo que nossos governantes pensem, de forma urgente, em políticas educacionais para reverter essa situação caótica no país e, em específico, em nossa cidade de Manaus.
O pensamento do filósofo Michel Foucault, ao seccionar o conceito de violência, nos leva a compreender que o foco não deve restringir-se a tratar apenas os sintomas, mas sim aprofundar-se na causa raiz. Quando há ausência ou falha na regulação da vida social, a violência ocupa esse espaço vazio, e cabe a nós, como sociedade, pressionar nossos dirigentes a despertarem para soluções efetivas que abordem as causas do problema.
Agradeço imensamente a oportunidade de compartilhar essas reflexões com todos vocês. Não deixem de acompanhar minha coluna na próxima semana, quando retornaremos com mais debates, e reflexões relevantes para nossa sociedade. Até lá!
Diogo Augusto , o turco, marido, pai, empreendedor, colecionador, pensador, curioso.
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