Em meio a tantas questões climáticas levantadas, tem-se propagado muito o conceito da eletrificação da frota de automóveis mundial. Vista por muitos como uma solução milagrosa contra a poluição dos grandes centros urbanos, abordada por famosos que propagam o sonho do carro elétrico em suas redes sociais. Tudo isso nos faz questionar: O que temos de fato? Não se trata de mais uma glamourização baseada na pauta ecológica? É uma solução viável, aplicável e resolutiva?
No dia 27/10/2022, a União Europeia assinava um acordo sobre uma lei que proibiria efetivamente a venda de novos carros a gasolina e diesel a partir de 2035. O objetivo era acelerar a transição dos veículos movidos a combustíveis fósseis para veículos elétricos, numa tentativa de combater de forma ativa e incisiva as mudanças climáticas decorrentes da poluição causada pelo grande número da frota de carros naquele continente. E, por conseguinte, tentar alavancar uma ideia de cooperação mundial, sendo a UE um exemplo positivo para o resto do mundo.
Na época do acordo, muito se falava em redução dos custos de compra de carros elétricos e dos benefícios que os motoristas teriam. Além disso, do fato de que a Europa caminharia rumo à vanguarda, cortando 100% nos níveis de emissão de CO2 em um curto espaço de tempo. Maravilhoso! Notícias grandiosas tomavam conta dos sites automotivos. Entusiastas dos elétricos comemoravam. Até que…
No decorrer dos últimos meses do corrente ano, 2023, a Alemanha, com apoio da Itália, Bulgária e Romênia, entrou com pedido para revisar o texto original e manter a fabricação de veículos a combustão. Porém, apenas aqueles que rodam com combustíveis sintéticos. Os veículos atuais não precisam de qualquer modificação para usarem esses combustíveis, já que os mesmos são produtos que possuem as mesmas propriedades de queima daqueles derivados do petróleo, só que com a ausência de elementos fósseis na composição. Argumentando, portanto, que é possível, sim, obter sustentabilidade com motores movidos a combustão. Unindo uma tecnologia sustentável de combustíveis sintéticos com a confiabilidade e a longevidade do conjunto mecânico. Ao contrário dos elétricos, que poluem menos quando cumprem seu ciclo de uso, pois podem ser totalmente reciclados. Inexistindo nos mesmos materiais que necessitam de descartes especiais, como as baterias que alimentam os propulsores elétricos. Sem tocar na ferida aberta das indústrias, que é o processo de pré-fabricação dos elétricos. Pauta extensa que não trataremos agora.
Em uma lógica mais racional, com suas pílulas da realidade devidamente tomadas, o Parlamento Europeu aceitou a sugestão encabeçada pelos alemães. Estabelecendo uma meta intermediária, factível, de reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990.
Lembrando que a matriz energética da Europa é baseada na queima de carvão, diesel e gás. Teríamos aquela cômica figura de um gerador a diesel carregando o sonhado carro elétrico de um engajado proprietário. Essa farsa vendida é tudo que as empresas automotivas não querem para si. Essa alteração proposta é a volta das fábricas ao campo da razão. É a fuga do modismo impensado. Lembrando o filósofo Aristóteles, o mesmo afirmava que existiam quatro causas para qualquer coisa existir: a causa material, a causa formal, a causa eficiente e a causa final. Que podemos simplificar como “O QUE”, “COMO”, “QUEM” e “POR QUÊ”. Tais conceitos se aplicam praticamente a tudo que se pretende vender no mercado, incluindo carros elétricos.
Convido vocês a analisarem aristotelicamente o produto “carro elétrico”, e cada um tirar suas conclusões e compartilhar com o próximo. Vejamos os questionamentos: O que a empresa produz? Como a empresa produz? Quem são os responsáveis pela empresa? Por que a empresa existe?
Entenderam a eficácia das quatro causas? Sem dar spoiler, acho que os fabricantes teriam problemas em responder de forma firme e direta pelo menos uma dessas perguntas. Não por acaso, penso que os mesmos refletiram sobre o assunto e resolveram dar um passo atrás para que pudessem, no tempo certo e de forma gradativa, chegar a algo resolutivo e concreto. Afinal, fábricas entendem bem o quanto é ruim pular etapas e suprimir evoluções.
O que concluo lendo e refletindo sobre eletrificação e combustíveis sintéticos é que o grande desafio dos países é não se prender a uma única solução, estando sempre receptivos para qualquer tecnologia que mantenha uma mobilidade ativa e sustentável. Mas que não seja inviável ou inaplicável. Até a próxima terça-feira. Aguardo todos para mais uma reflexão. Até lá!
Diogo Augusto , o turco, marido, pai, empreendedor, colecionador, pensador, curioso.
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