Existe um livro que pintou o quadro mais sombrio dos governos, da manipulação, da onipresença dos mandatários, da opressão, da vigilância total do povo, da perseguição, da supressão dos direitos, do totalitarismo do Estado e da desesperança. Um clássico que está mais atual do que nunca, o livro é 1984 e o autor é George Orwell.
Imagine um mundo onde Big Brother não é só o nome de um reality show, mas sim o Grande Irmão que controla cada aspecto da vida das pessoas. Essa é a realidade sombria de “1984”. Orwell pintou um retrato aterrorizante de um Estado totalitário onde a liberdade é um mito e a verdade é o que o regime diz que é.
Winston Smith, nosso protagonista, trabalha no Ministério da Verdade, onde seu trabalho é reescrever a história para se adequar aos caprichos do Partido. Mas aí ele se apaixona por Julia, e juntos eles começam uma jornada de resistência contra o sistema opressor. E é aí que a trama pega fogo!
Os eventos do livro se passam em Londres, em uma cidade fictícia chamada Oceânia, território dominado pela repressão e pelo medo e Orwell não deixa bem claro o ano, porém o aparato de tecnocracia do Estado citado no livro só se sustenta num futuro, o livro foi escrito e lançado em 1949. Orwell nos leva a questionar nossa própria realidade. Será que estamos tão longe desse mundo distópico? Pense na tecnocracia com ferramenta da vigilância constante das redes sociais, na manipulação da mídia. Orwell estava à frente do seu tempo ao prever como o poder poderia distorcer a verdade para controlar as massas. Impossível não comparar o mundo de “1984” com o que vivemos hoje.
Em “1984”, Orwell nos alerta sobre o perigo de uma sociedade onde a verdade é moldada pelo Estado. E olha só como isso se reflete nos dias de hoje: algoritmos que nos mostram apenas o que queremos ver, políticos que distorcem os fatos em seus discursos e a constante batalha contra a desinformação.
E o que dizer da vigilância constante? Em “1984”, as telas estão sempre observando os cidadãos. O termo Big Brother na verdade surgiu a partir deste livro. E hoje? Basta pegar seu smartphone para ser rastreado em cada movimento. É como se Big Brother estivesse sempre de olho em nós, só que agora ele cabe na palma da nossa mão. De forma exponencial isso leva à política de regulação da Internet.
Em 1984 uma das formas que o governo usa para manipular e impedir a expressão das pessoas é criando uma novafala ou o Novilíngua um idioma fictício criado pelo governo hiperautoritário desenvolvida não pela criação de novas palavras, mas pela “condensação” e “remoção” delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento. Exatamente de acordo com o momento em que vivemos com o surgimento de termos que suprimem outras palavras com o intuito de subverter a história e criar nos mais novos uma ideia preconcebida de que determinados termos já não podem ser usados. Ou seja, Orwell já previa que no futuro as pessoas seriam canceladas pelo que poderiam dizer.
No livro Winston e Julia se unem para lutar contra o sistema, isso já é uma mostra do que nós também temos que fazer a cada vez que questionamos e quando buscamos a verdade. O livro todo é como se estivéssemos dentro de uma enorme Matrix com escamas nos olhos que nos impedem de ver a realidade, então, a ideia é tirar nossos óculos de realidade aumentada e encarar de frente os desafios do nosso tempo. Orwell acerta totalmente com a questão da vigilância e da Novilíngua. Ele possui outras grandes obras dentre elas cito “A Revolução dos Bichos”, com fortes críticas ao stalinismo, mas “1984” é a distopia que explica o momento atual, por isso é tão importante conhecer esta obra.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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