Na última quinta-feira dia 21 de março Ayrton Senna se tivesse escapado ileso da curva Tamburello completaria 64 anos, para entender um pouco da mística que envolve o ídolo Senna precisamos entender um pouco o país, naquele tempo, e entender um pouco o heroísmo proclamado por brasileiros e compartilhado por japoneses focando nessas duas culturas, muito embora nosso campeão possui fãs por todo o globo terrestre.
Quero destacar aqui muito além dos seus números, o tricampeonato mundial, o reconhecimento por seus rivais e todos os seus feitos nas pistas são coadjuvantes quando olhamos os feitos do homem, além do piloto, feitos que frutificam até os dias atuais. O “Chefe” como era conhecido nos bastidores dos grandes prêmios é lembrado por sua dedicação, determinação e paixão pela vitória. Ele inspirou milhares de pessoas em todo o mundo, principalmente em um Brasil que vivia um período de muita recessão econômica e esportiva, estávamos carentes de heróis, as vitórias de Senna nos domingos, vinham acompanhadas de um sentimento de esperança, ele era o Brasil que vencia, isso nos enchia de orgulho e emoção.
Para nós brasileiros, a obstinação e a dedicação dele nas pistas era algo a ser perseguido em nossas vidas, nossos pais o usavam como exemplo, para que não desistíssemos, suas entrevistas eram sempre muito emotivas e expressavam o sentimento de entrega do melhor que podia ser feito com o que se tinha disponível. Lembrando a corrida de 1984 em Monaco, Senna em uma Toleman, carro que nem de longe fazia frente as McLarens, deu um show na chuva, afinal com uma pista tão desafiadora a água no asfalto diminui a importância do melhor carro, passa a valer muito mais o braço do piloto a vitória seria certa, mas, em uma decisão vergonhosa um dirigente francês, Jean-Marie Balestre, interrompeu a prova para tentar beneficiar seu compatriota, Prost, que lutava pelo título de 1984, Senna terminou aquela prova maravilhosa em terceiro lugar, e o jovem prodígio, entende em seu íntimo e comemora discretamente sabendo que aquela era, sim, uma vitória. (Naquele ano Lauda se consagra tricampeão sobre Prost por 0,5 pontos, caso essa corrida de Mônaco tivesse sido normalmente finalizada, a pontuação teria sido integral e Prost seria campeão.)
Sua carreira é preenchida por vários feitos, mas, é no encontro com os motores Honda e a filosofia japonesa que as grandes vitórias acontecem, Senna leva seus predicados aos engenheiros e mecânicos da Mclaren-Honda, em sua maioria japoneses, os mesmos ficam encantados com a personalidade do brasileiro, seus princípios e seu caráter lembram muito os Samurais, guerreiros muito respeitados no Japão, reconhecidos por seguiam um código de conduta rigoroso, Ayrton Senna compartilhava com eles a dedicação à excelência, a busca pela perfeição e a mentalidade de nunca desistir. Ambos representam a ideia de perseverança, disciplina e busca constante pela melhoria.
O espirito samurai em Senna era marcante nas classificações que ocorriam no sábado antes das corridas, o grid inteiro parava para assistir a “volta banzai”, uma referência ao golpe único que os samurais deferiam com suas katanas derrotando seus adversários, a volta perfeita que quase sempre lhe rendia a posição de poleposition. Ao mesmo tempo em que a vitória e a busca pela perfeição eram uma constante em sua vida e era motivo de admiração geral no país do sol nascente e também em terras tupiniquins Senna se destacava pela compaixão e a preocupação com o outro dentro e fora das pistas.
Dentro das pistas, Senna era um ferrenho defensor da segurança tanto nos carros quanto dos circuitos, nos treinos para o GP da Bélgica de 1992 uma cena ficou marcada no automobilismo: Erik Comas, piloto francês da Ligier, bateu forte em uma curva e seu carro ficou atravessado no meio da pista de Spa-Francorchamps. Ayrton passou pelo local com sua McLaren, para o carro e corre em direção do acidente para ajudar o colega de profissão. Percebendo que Comas ainda estava desacordado e com o pé no acelerador, Ayrton desligou o motor da Ligier imediatamente. Após Senna prestar os primeiros socorros, os fiscais e a equipe médica também chegaram no local, mas o próprio Erik acredita que o brasileiro teve papel fundamental para nada mais grave ter acontecido. “Ele desligou a ignição do carro, evitando assim uma explosão. Neste momento, Ayrton Senna salvou minha vida”, disse Comas em declaração feita a um documentário.
Fora das pistas, Senna construiu um legado para as crianças do Brasil, e continua vivo através da Fundação Ayrton Senna, que trabalha para melhorar a educação de crianças e jovens carentes no Brasil, a Fundação desenvolve projetos e programas educacionais que visam a inclusão social, a formação de professores, a melhoria da gestão escolar e o desenvolvimento de metodologias inovadoras de ensino. Seu trabalho impacta milhares de crianças, jovens e educadores em todo o país, ajudando a transformar a realidade de muitas crianças.
Li recentemente um trecho de um pensador do qual não me recordo o nome, mas, dizia assim, “um homem só morre de verdade quando ele é esquecido, porque na mente daqueles que não esquecem ele jamais morreu”! Esse é o sentimento dos que conhecem a história do piloto e sobretudo o homem Ayrton Senna da Silva, nosso campeão!
Aguardo todos na próxima semana. Até lá!
Diogo Augusto , o turco, marido, pai, empreendedor, colecionador, pensador, curioso.
Foto: Reprodução Twitter/Fórmula 1