Durante o período pós guerra nos anos 50 os EUA estavam em franca ascensão assumindo a ponta do crescimento econômico, o país bombava em todos os fronts, porém uma geração cansada das convenções sociais e ávida por liberdade, experimentação e uso de alucinógenos emergiu nos grandes colleges das metrópoles de New York, San Francisco, Chicago e Washington, D.C. E no coração dessa revolução cultural estava Jack Kerouac, o homem que deu voz aos desajustados, com sua aventura literária “Pé na Estrada”. O livro simplesmente narra as histórias sobre uma viagem alucinante cortando os Estados Unidos de leste a oeste e se tornou um manifesto da contracultura beatnik. Kerouac nos apresentou Sal Paradise e Dean Moriarty, personagens que desafiaram o status quo, buscando experiências genuínas em estradas tortuosas na paisagem do interior norte-americano.
Regado a muita benzedrina (estimulante), cigarro e café Kerouac capturou o espírito rebelde de uma geração que rejeitava o conformismo e ansiava por autenticidade, o livro inspirou uma revolução cultural que ecoou por décadas. A narrativa de Kerouac refletia os anseios de uma juventude em busca de identidade e significado. Suas palavras ressoaram entre os desiludidos, os buscadores de aventura e os sedentos por novas experiências. “Pé na Estrada” foi uma verdadeira “Call to Action” um chamado à ação, uma celebração da vida desregrada e da busca incessante pela essência da existência.
O livro foi muito criticado pelo estilo direto em tom de reportagem sem muito aprofundamento filosófico e psicológico dos personagens e por tratar apenas de jovens que cruzaram o país consumindo drogas e ouvindo Jazz Bebop. Sal Paradise é Jack Kerouac o cara certinho da faculdade e Dean Moriarty (Neal Cassady na vida real) é o resultado da Grande Depressão dos anos 20 um vadio rebelde e charmoso, o agitador que conquista todos. Após se conhecerem as coisas são rápidas e sem planejamento, os dois decidem sair loucamente pelas estradas da América do Norte. É a celebração da estrada, um elogio à liberdade, um chamado para que todos saiam de suas casas e sumam por aí.
Os beatniks foram uma geração de escritores e poetas resultante de uma sensação de desilusão, alienação e desapego em relação à sociedade de consumo e a conexão com o movimento existencialista, buscando transcender todas as instituições e convenções sociais. Inspirados pela poesia e a rebeldia de Rimbaud e Dylan Thomas os beatniks não estavam preocupados em criar uma subcultura e sim de buscar uma nova forma de viver. Mas a influência de “Pé na Estrada” na cultura contemporânea é inegável, de James Dean, Elvis, Bob Dylan, Iggy Pop, Jim Morrison até Kurt Cobain e toda turma do grunge com seus temas de liberdade, rebeldia e autodescoberta o DNA beatnik ecoa nas letras do rock ‘n’ roll e nas mentes dos inquietos, chegando inclusive à era digital, em meio a memes e hashtags. Assim como Sal e Dean, a juventude continua a sua eterna busca de algo mais, algo que transcenda o mundano e toque as estrelas.
Outros escritores como Ginsberg também fizeram parte dos beatniks representaram um hino à rebeldia e à busca pela verdadeira essência da vida. E enquanto o mundo continuar girando, suas palavras continuarão a inspirar aqueles que anseiam por liberdade, aventura e o eterno chamado da estrada.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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