Em meados do século passado os EUA despontavam como a grande nação e de fato muitas famílias migraram do ambiente sufocante e caótico da Europa para a América fazendo o que ficou conhecido como o “Go West”, onde muitos buscavam novas oportunidades e as perspectivas de um futuro melhor e mais promissor. Destes imigrantes Alisa Zino’vyena Rosembaum (Ayn Rand), judia, nascida e educada em São Petersbugo na Rússia, mudou-se para os Estados Unidos em 1926 e em 1943 publicou o romance A Nascente.
Neste romance Ayn Rand apresenta a individualidade brotando em meio à torrente do coletivo, Rand cria um ambiente de narrativa onde as lutas e os ideais de individualismo para se afirmar diante da massa são confrontados de maneira visceral.
No cerne do livro, encontramos Howard Roark, um arquiteto visionário que não se curva diante das convenções impostas pela sociedade. Roark é a encarnação do espírito indomável, aquele que se recusa a se submeter ao rebanho e prefere seguir sua própria trilha, mesmo que isso signifique nadar contra a correnteza.
Rand propõe o homem ideal, um produto auto-suficiente que cria as suas próprias soluções que não segue o pensar coletivo, Roark é um pensador independente que se destaca por sua postura desafiadora em relação ao status quo da sociedade propondo novas formas de fazer as coisas. Considerado arrogante por seus colegas, Roark não se curva à imposição do tradicional e do convencional. Seu trabalho, caracterizado por sua oposição aos padrões estabelecidos, é frequentemente menosprezado antes mesmo de passar por uma avaliação crítica, sendo também rotulado como “egoísta” e desprovido de empatia pelos outros. Sua dedicação inflexível a seus princípios e objetivos pessoais muitas vezes o coloca em conflito com as expectativas sociais. Ao longo da trama de “A Nascente”, somos apresentados a outros personagens que representam diferentes facetas da sociedade contemporânea. Entre eles, destacam-se os tradicionalistas, imersos no passado e apegados às normas estabelecidas, são retratados como obstáculos ao progresso e à mudança esses personagens se mantêm firmes em suas convicções, resistindo a qualquer tentativa de ruptura com o status quo. Por um outro lado há também os conformistas são retratados como aqueles que seguem cegamente as expectativas dos outros, sem questionar ou desafiar as convenções sociais. Seguem seus pares e se apoiam em gurus, abdicando de suas próprias preferências em prol da aceitação e da conformidade.
Por ter vivido a realidade soviet durante sua juventude Rand fala com muita propriedade e conhecimento de causa através de Ellsworth Toohey, personagem do livro e antagonista de Roark ao proferir um discurso onde pregava o socialismo com matiz de boas intenções, a preocupação com a satisfação das pessoas, a igualdade dos membros da sociedade e o bem comum, onde diz Toohey: “Use palavras imponentes e vagas como Harmonia Universal, Espírito eterno, Propósito Divino e Ditadura do Proletariado”. Ou seja muita semelhança com o nosso momento repleto de: “Democracia Popular”, “Igualdade Social” e “Ideologia de gênero”.
A Nascente é um livro pouco conhecido no Brasil. Nos Estados Unidos, onde o individualismo é venerado como uma religião, as ideias de Rand encontraram solo fértil para florescer, contrastando com a União Soviética da década de 40 onde o coletivo era norma, a Nascente soou como uma utopia inalcançável.
À medida que os Estados Unidos enfrentam desafios internos e externos, a obra de Rand ressoa com uma urgência renovada. O declínio da nação como potência pode ser atribuído, em parte, à perda de sua identidade individualista, à diluição de seus ideais em um mar de conformismo.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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