Vamos entender o que aconteceu na França, após uma derrota humilhante perante a legenda de Marine Le Pen nas eleições europeias, presidente francês, Emmanuel Macron, convoca novo pleito para a Assembleia Nacional, surpreendendo o mundo político. Parece que o presidente francês está reagindo a uma derrota significativa e procurando revitalizar sua posição política convocando novas eleições para a Assembleia Nacional. Essa ação pode refletir seu desejo de fortalecer seu governo e garantir um novo mandato mais forte. Será?
Além disso, pode ser uma tentativa de consolidar seu apoio político e interromper a crescente popularidade de Marine Le Pen e sua legenda. A decisão certamente será assistida com atenção pelo mundo político, pois pode ter impactos significativos no panorama político francês e europeu. Vamos entender um pouco como funciona a dissolução do parlamento francês é o procedimento pelo qual o Presidente, de acordo com a Constituição, pode encerrar o mandato dos membros da Assembleia Nacional antes do término de seu mandato regular. Ao dissolver o parlamento, convocam-se novas eleições para a Assembleia Nacional, processo desencadeado após consultar o primeiro-ministro e os presidentes da Assembleia Nacional e do Senado. A dissolução do parlamento é um meio de resolver crises políticas ou obter um novo mandato mais forte para o governo em exercício, o que pelas análises não ocorrerá com Macron, especialistas ressaltam que os posicionamentos do Presidente não agradam a maioria dos franceses, dessa forma a dissolução do parlamento deflagrada pelo Presidente francês nos parece um ato, legal, mas, de desespero daquele que não atende os anseios do povo e já não consegue governar.
No sistema semipresidencialista da França, o Presidente depende de um primeiro-ministro indicado pelo Parlamento para assegurar a governabilidade. Macron foi reeleito para a Presidência em abril de 2022, mas acabou perdendo sua maioria parlamentar no pleito legislativo de junho do mesmo ano. Com isso ele tem enfrentado dificuldades para aprovar leis e projetos na Assembleia Nacional, tendo que apelar a mecanismos controversos no meio político francês, como decretos e ordens executivas, para superar a falta de uma maioria.
Em 1997 o então Presidente Jacques Chirac (conservador) tomou a mesma decisão, não logrando êxito tendo que conviver com um Primeiro-Ministro (socialista), um desastre para o grupo político do Presidente Chirac. Não obstante o mau precedente histórico de Chirac, Macron pareceu mirar no exemplo de outro Presidente: o General Charles de Gaulle. Fundador da atual República francesa, ele fez uso da dissolução da Assembleia Nacional em duas ocasiões, em 1962 e 1968. Em ambas foi bem-sucedido. Um pouco narcisista por parte de Macron se igualar ao mítico Presidente e “herói” de guerra de Gauller, que se aproveitou à época de uma desorganização de sua oposição para essas duas campanhas exitosas.
Um leitor habitual da coluna, que me sugeriu versar sobre o acontecido me indagou, “É uma aposta inteligente ou uma cartada louca?” Pesando os prós e contras penso que é um pouco dos dois, mas, que o medo é maior por parte do grupo político do atual Presidente Frances o pensamento de seus correligionários é de que o partido de Le Pen cresça ainda mais. Em um cenário desse, a Assembleia Nacional ficaria ainda mais travada, com o aumento de deputados hostis ao governo. Em um cenário pior para Macron, a Reunião Nacional poderia se tornar a principal força da Assembleia Nacional – por conseguinte indicar o Primeiro-Ministro. Nesse caso, Macron seria um novo Chirac, em vez de um De Gaulle.
O melhor sinopse da atitude teatral do enfraquecido Presidente Francês vem do periódico francês Le Figaro : “E a noite eleitoral teve uma reviravolta dramática. Ao anunciar a dissolução da Assembleia Nacional no domingo, na esteira dos primeiros resultados das eleições europeias, Emmanuel Macron, subitamente, mergulhou o cenário político e a nação no desconhecido.” Vamos aguardar o desenrolar dos próximos capítulos, lembrando por fim as palavras não do Presidente, mas, do General De Gaulle, “Como se há-de governar um país que tem 246 variedades de queijo? ” Vejo todos na próxima semana. Até lá!
Diogo Augusto , o turco, marido, pai, empreendedor, colecionador, pensador, curioso.
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