ão é surpresa para ninguém que o mundo está indo ladeira abaixo sob todas as formas, mas no tocante à cultura a coisa está desenfreada e muitos têm sido os autores que se dedicam a mostrar isso. Theodore Dalrymple, em seu livro “Nossa Cultura… Ou O Que Restou Dela”, expõe uma visão crítica e aguda sobre a deterioração da cultura ocidental contemporânea. Sua análise se fundamenta em décadas de experiência como psiquiatra e médico em áreas urbanas degradadas, proporcionando-lhe uma perspectiva única sobre os males sociais que permeiam a sociedade atual.
Dalrymple argumenta que a perda de valores tradicionais e a ascensão de uma cultura de permissividade e relativismo moral têm levado à degradação da sociedade. Ele vê a cultura moderna como um reflexo de uma profunda crise moral e intelectual, onde a busca pelo prazer imediato e a ausência de responsabilidades pessoais são prevalentes.
Tudo começa com o “Politicamente correto” que gera um ambiente propício para o Estado do Bem Estar Social e que leva a um tolerar o intolerável porque é preciso ser tolerante e permissivo a todo tipo de manifestação cultural, ainda que estas sejam de baixíssimo nível. Enquanto a música, cinema e literatura vão despencado ladeira abaixo, as novas manifestações devem ser aceitas porque já vêm com o selo contestatório aos valores antigos. Portanto isso é bom não por ser alta cultura mas por pisar em algo que não pertence a esta geração.
O livro é uma coleção de ensaios que examinam diversos aspectos da sociedade contemporânea, desde a educação até a arte, passando pela criminalidade e a política. Dalrymple critica a educação moderna por sua falência em transmitir conhecimento e valores morais sólidos, resultando em gerações de jovens desorientados e sem propósito. Ele também aborda a banalização da arte e da cultura, que ele vê como uma consequência da perda de critérios estéticos e éticos. De outra forma também não poupa críticas ao que considera ser uma falha generalizada na capacidade da sociedade de manter padrões elevados de comportamento e pensamento. Ele atribui grande parte dessa falha à influência corrosiva do pensamento pós-moderno e ao declínio da autoridade e da responsabilidade pessoal.
Dalrymple estrutura sua obra em 4 pilares: Educação, Arte Moderna, Cultura da Irresponsabilidade e o Papel das Elites Intelectuais.
Na educação aponta o sistema educacional moderno, criticando a ênfase em técnicas pedagógicas progressistas em detrimento do ensino de conhecimentos sólidos e valores morais. Dalrymple diz: “Não ensinar a linguagem padrão ou a cultura erudita para as populações de periferia reduz as possibilidades de mobilidade social, sendo a ideia mais mesquinha possível”.
Nas artes diz que o “Belo e a Estética” estão dando lugar a um tipo de arte contemporânea com falta de profundidade e significado, uma arte provocativa e sem sentido que apenas reflete a decadência da sociedade que a consome. Na cultura o surgimento da irresponsabilidade pessoal, com indivíduos frequentemente culpando fatores externos por seus próprios fracassos e comportamentos. A tendência de vitimização e a falta de responsabilidade individual minando a coesão social e o progresso.
No Papel das elites condena os intelectuais que promovem ideologias destrutivas e relativismo moral.
Este contexto atual, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, revela paralelos preocupantes. No Brasil, vemos uma juventude frequentemente desiludida e desmotivada, refletida em altos índices de violência e evasão escolar. A educação, muitas vezes, falha em engajar os jovens de forma significativa, resultando em um ciclo de pobreza e criminalidade.
Nos Estados Unidos, o fenômeno dos “neets” (jovens que não estão em educação, emprego ou treinamento) exemplifica a perda de direção e propósito criticada por Dalrymple. A crise de opiáceos, que atinge diversas comunidades americanas, pode ser vista como um sintoma dessa decadência cultural, onde o vazio existencial é preenchido por vícios destrutivos. A cultura de permissividade que evita julgamentos morais claros, levando à apatia e ao declínio das normas sociais. Ele defende a necessidade de um retorno a valores mais tradicionais, que promovam a responsabilidade pessoal e a busca por significado além do prazer imediato.
Theodore Dalrymple é o pseudônimo de Anthony Daniels, médico psiquiatra inglês que durante muito tempo atuou na periferia e hoje é um dos principais expoentes do pensamento conservador no mundo atual. Também escreveu outros livros como “Podres de Mimados”. Sua obra é um chamado à ação para todos que desejam ver uma revitalização cultural e moral.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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