Olá, leitores do Fato!
As redes sociais e portais de informações disseminaram, recentemente, uma tendência entre jovens que se autodenominaram “CLT Premium”. Mas, afinal, o que seria isso?
Trata-se de empregados que trabalham em empresas com benefícios muito além dos previstos em lei (CLT), que vão desde jornadas híbridas e flexíveis até vale-alimentação em valores altíssimos, ou até mesmo planos de academia, viagens, etc.
Um ponto em comum entre os autores das postagens é que todos têm a mesma faixa etária, estão enquadrados na chamada Geração Z, ou seja, nascidos entre 1995 e 2010 (segundo pesquisei, pois confesso que fico um pouco confusa sobre essas divisões de gerações e seus nomes. Nessa mesma pesquisa, inclusive, descobri que sou uma millennial. rs).
A concessão de benefícios aos trabalhadores é, sem dúvida, um importante investimento, pois acredito que o capital humano é o ativo mais valioso de uma empresa, e a preocupação com o bem-estar destes é uma necessidade. Contudo, é impossível ignorar o fato de que estudos recentes apontam que a Geração Z é frequentemente vista como pouco comprometida, impaciente e, por estar sempre inserida em um ambiente de tecnologia, apresenta problemas comportamentais (o que explicaria as exigências por trabalhos home office, por exemplo, para minimizar o convívio social). Talvez o “CLT Premium” esteja surgindo para atrair uma geração cujas exigências não necessariamente são equivalentes às suas qualificações.
Evidente que eu, uma millennial, defendo o uso de tudo o que venha a agregar e permitir que sejamos produtivos sem perder a qualidade de vida, mas a compreensão do cenário em nosso país e a alta carga tributária sobre a folha de pagamento é um ponto que merece atenção, visto que nem todas as empresas têm condições de oferecer além dos direitos já previstos em lei, o que pode gerar certa frustração nesses indivíduos, mesmo que não tenham se qualificado para isso.
Nem ache que é algo difícil de ocorrer, afinal, em um mundo de rede social, com suposto “dinheiro fácil” em jogos, apostas e influenciadores ostentando vidas inatingíveis, o índice de jovens que nem estudam e nem trabalham (nem-nem) teve um aumento significativo. É essa geração que está exigindo ser “CLT Premium”. Compreende?
Além do mais, não custa frisar que a maioria das empresas que hoje oferecem benefícios superiores aos exigidos por lei são aquelas que também prestam serviços que até pouco tempo sequer existiam, como empresas de tecnologia, startups e bancos digitais, com seus escritórios divertidos e despojados, como eu, ainda criança, ouvia falar que eram os escritórios da Google, por exemplo, ao redor do mundo. E vejam só quanto tempo demorou para essa “onda” chegar aqui, hein?
Como advogada que atua na área trabalhista, enxergo essa tendência (CLT Premium) como uma oportunidade para repensarmos as práticas laborais e adaptá-las às novas gerações. A busca pelo bem-estar do trabalhador é necessária, e a busca por um mercado de trabalho sustentável e atrativo para todas as gerações traz benefícios para toda a sociedade.
Driely Atem , Advogada, especializada em Direito do Trabalho, sócia do escritório Ribeiro Atem, vice-presidente da Comissão de Direito Aeronáutico da OAB/AM, membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/AM.Instagram: @ribeiroatem.adv
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