Tia, meu coração está com fome!

21/10/2024 as 3:23 pm

A adoção é um caminho repleto de amor, mas também de desafios, especialmente quando se trata de crianças que carregam a dor da escassez emocional. Para essas crianças, a sensação de falta pode se manifestar em diversos comportamentos, como a compulsão por comer, o furto de objetos ou a destruição de brinquedos dos colegas. Esses comportamentos não são meramente rebeldes; são, na verdade, tentativas de lidar com um passado marcado pela insegurança e pela falta.

Vencer essa profundidade do sentimento de escassez é crucial para que essas crianças possam encontrar um espaço seguro em suas novas vidas. É fundamental que os cuidadores entendam que a necessidade de preencher esse vazio vai além do alimento ou dos bens materiais. É preciso criar um ambiente onde elas possam sentir que têm acesso ao “suficiente”. Isso envolve não apenas atender às necessidades básicas, mas também oferecer amor incondicional, atenção e validação emocional.

Nesse contexto, a promoção da autonomia e do poder de decisão é essencial. Quando uma criança tem a oportunidade de fazer escolhas – seja sobre o que vestir, o que comer ou como brincar – ela começa a desenvolver um senso de controle sobre sua vida. Essa autonomia é vital para curar as feridas emocionais deixadas pela escassez. Ao permitir que as crianças decidam, estamos não apenas fortalecendo sua autoestima, mas também ensinando-as que suas vozes importam.

A autonomia ajuda as crianças a entenderem que podem influenciar seu ambiente e suas experiências. Essa sensação de controle é uma poderosa antidoto contra o medo e a insegurança. Ao fazer escolhas, elas aprendem sobre responsabilidade e consequências, desenvolvendo habilidades que serão fundamentais em sua vida adulta. Além disso, essa prática pode reduzir comportamentos impulsivos e autodestrutivos, pois elas passam a ter alternativas saudáveis para lidar com suas emoções.

Incentivar a autonomia também significa ensinar as crianças sobre limites. Elas precisam compreender que é normal sentir desejos e necessidades, mas que existem maneiras adequadas de expressá-los. Isso pode incluir o aprendizado sobre compartilhamento e empatia – habilidades essenciais para interações saudáveis com os outros.

É importante lembrar que a jornada para superar a escassez emocional não acontece da noite para o dia. Requer paciência, compreensão e apoio contínuo. Os cuidadores devem estar dispostos a escutar as angústias das crianças e validar seus sentimentos. Esse processo de cura é gradual e demanda um espaço seguro onde elas possam explorar suas emoções sem medo.

Em suma, vencer o sentimento de escassez nas crianças adotadas é uma tarefa vital que envolve tanto o atendimento das necessidades básicas quanto o incentivo à autonomia. Ao criar um ambiente acolhedor onde elas possam fazer escolhas e se sentirem seguras, estamos ajudando-as a curar as feridas emocionais deixadas pela escassez. Assim, essas crianças poderão florescer em suas novas vidas, aprendendo a confiar novamente no amor e na segurança que merecem.

Luiza Simonett i, advogada militante e ativista dos direitos das crianças e adolescentes, presidente da Comissão de Direito de Familia e Adoção da OAB-AM, Mãe do Enzo, do Theo e da Eliza, madrasta apaixonada pela Manu e Bernardo.

Instagram: @luiza.simonetti.adv

Foto: Reprodução

Tia, meu coração está com fome!

Em resposta a ataques, Putin ordena produção em série de míssil supersônico

Arte em ouro

Taxa de desemprego no Amazonas sobe para 8,1% no terceiro trimestre, aponta IBGE

Um país desigual, o legado de 25 anos de maus governantes

Tribunal Penal Internacional emite mandados de prisão contra Netanyahu por crimes de guerra