O livro Fundamentos de Geopolítica (1997), de Alexander Dugin, é a obra que delineia a visão estratégica de um ressurgimento do poder russo. Considerado uma espécie de “manual” para elites políticas e militares na Rússia, o texto de Dugin apresenta a teoria do eurasianismo como uma alternativa ao domínio unipolar do Ocidente, liderado pelos Estados Unidos. A obra argumenta que a Rússia deve se consolidar como o coração de um vasto bloco eurasiano, desafiando o liberalismo ocidental e promovendo valores tradicionais como antídoto à decadência cultural do Ocidente.
Dugin é o arquiteto de ideias que influenciaram o establishment russo, incluindo figuras do governo de Vladimir Putin. Com sua teoria propõe que a Rússia assuma uma postura expansionista, conquistando influência em países próximos para formar um cinturão estratégico que proteja seus interesses e promova sua hegemonia regional. A Ucrânia, neste contexto, ocupa uma posição central: sem o controle sobre ela, segundo Dugin, o projeto eurasiano é incompleto.
No livro, Dugin apresenta o Eurasianismo como alternativa geopolítica: Propõe a criação de um bloco liderado pela Rússia, unindo países da Europa Oriental, Ásia Central e Oriente Médio. Dugin diz: “A Rússia deve desafiar o Ocidente e minar a influência dos EUA e da OTAN, tanto política quanto culturalmente, fomentando divisões e enfraquecendo alianças ocidentais. Com vistas ao Controle territorial estratégico”. Os EUA são a potência marítima, os filhos de Atlante que serão confrontados pelos russos, uma potência terrestre. Assim defende métodos que vão desde o uso da força militar até estratégias de manipulação ideológica e subversão, sugerindo uma guerra híbrida como ferramenta para alcançar os objetivos russos.
A visão de Dugin é ousada e alarmante, que mistura geopolítica, história e filosofia em um discurso que beira o messianismo nacionalista. Fundamentos de Geopolítica é também um manifesto que deve inspirar e moldar a alma russa com as suas visões de grandeza remetendo ao passado dos czares que não se reconheciam europeus. Porém seu texto legitima a agressividade russa no cenário internacional. Embora controverso, é impossível ignorar a influência do livro sobre o pensamento estratégico do Kremlin.
A obra destaca a Ucrânia como um ponto de ruptura na luta entre dois mundos: o Ocidente liberal e o bloco eurasiano liderado pela Rússia. A invasão da Crimeia em 2014 e a guerra em curso na Ucrânia desde 2022 ilustram a execução prática das ideias defendidas por Dugin, em que a política externa russa segue uma lógica expansionista para proteger e ampliar sua esfera de influência.
No entanto, o livro também levanta preocupações éticas e geopolíticas. Sua visão de mundo é essencialmente confrontacional e polarizadora, rejeitando o pluralismo e incentivando um modelo de dominação que mina a soberania de estados menores. Para o mundo, as ideias de Dugin representam uma ameaça à ordem internacional baseada em regras, fomentando instabilidade global.
A guerra na Ucrânia pode ser vista como a personificação das ideias de Dugin e do eurasianismo. A Rússia, sob Putin, abraçou a visão de que deve desafiar a hegemonia ocidental para reafirmar seu papel como superpotência. A anexação da Crimeia e o apoio às regiões separatistas de Donetsk e Lugansk demonstram a aplicação prática dessa doutrina. O expansionismo russo, guiado pela lógica geopolítica do livro, resulta em conflitos que vão além da Ucrânia, tensionando relações entre a Rússia e o Ocidente.
O livro insuflou o povo russo de um nacionalismo até então esquecido com grandes consequências para a Geopolítica Mundial. A filosofia de Alexander Dugin, define a Rússia ortodoxa como uma civilização singular e distinta, que não pertence nem ao Oriente nem ao Ocidente. Para Dugin, a Rússia é o coração de um “império eurasiano”, cuja missão histórica é garantir seu lugar legítimo entre as grandes potências globais. Essa visão atribui à Rússia a tarefa de desafiar a hegemonia global dos Estados Unidos, posicionando-se como uma força contrária à ordem unipolar liderada pelo Ocidente. As ideias de Dugin conquistaram apoio tanto de movimentos da “nova direita” na Europa quanto da “alt-right” (direita alternativa) nos Estados Unidos, reforçando sua influência em diferentes contextos políticos e culturais. Leitura obrigatória para quem deseja entender um pouco sobre o expansionismo russo!
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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