2025 promete entregar o Zeitgeist vigente: muita fluidez, muitas incertezas, nada de compromissos, as pessoas pulando de emprego em emprego, relacionamentos superficiais, cultura rasa, ou seja, tudo de acordo com a Teoria da Fluidez de Zygmunt Bauman.
Bauman foi um sociólogo e filósofo judeu polonês que teve como principal característica de seu trabalho o aspecto do efêmero e passageiro em suas obras que ficou conhecido como “a fluidez no viver”. Podemos discordar de algumas de suas ideias, mas é impossível negar que, ao olhar ao redor, muitos dos sinais que ele descreve estão presentes, ainda que de forma imposta. Relações que não duram, decisões tomadas por impulso e um futuro que parece mais incerto a cada dia. Será que estamos realmente vivendo nessa modernidade líquida? Talvez não em tudo, mas em algo, certamente. Afinal, em algum ponto, todos sentimos os efeitos dessa “vida em constante recomeço”.
No livro Modernidade Líquida, Bauman descreve como, no mundo contemporâneo, a solidez das estruturas sociais, anteriormente vistas como permanentes, foi dissolvida. Essa liquefação da modernidade resulta em uma realidade onde os relacionamentos, os empregos, as escolhas e até as próprias identidades são caracterizados pela fluidez e pela incerteza.
Compara o que é o estado sólido com o estado líquido: “os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto. Os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la; Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”, “pingam” são “filtrados”, “destilados” diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos”.
Há que se reparar na descrição de como é o ser fluído: Não têm forma e estão sempre em mutação, são fluídos e escorrem, esvaem-se, respingam e não se deixam conter. Uma cartilha que é seguida à risca por uma parcela da sociedade. Bauman introduz o conceito de “liquidez” para ilustrar como tudo o que outrora era duradouro cedeu lugar a um estado de constante mudança. A modernidade líquida não é apenas uma fase da história; é um reflexo da incapacidade do ser humano contemporâneo de criar vínculos e compromissos sólidos em meio às demandas de um mundo acelerado e repleto de possibilidades efêmeras.
Os principais pilares da vida moderna: relações interpessoais, trabalho, consumo e identidade são marcados pela volatilidade.
As conexões humanas tornaram-se mais frágeis e superficiais. O “amor líquido” é um exemplo dessa precariedade, onde os relacionamentos são guiados pelo imediatismo e pela conveniência. Os empregos já não oferecem estabilidade. A lógica do mercado, impulsionada pelo consumo constante, trata os trabalhadores como descartáveis e os consumidores como eternamente insatisfeitos. As pessoas são encorajadas a reinventar-se constantemente, mas essa flexibilidade gera ansiedade, pois tudo é temporário e incerto. Esta individualização e o enfraquecimento dos laços sociais resultam em uma ausência de responsabilidade mútua, transformando a vida comunitária em um ideal cada vez mais inalcançável.
Bauman aponta que na modernidade líquida, as relações são conexões, não compromissos onde tudo é temporário e descartável. O compromisso exige esforço e responsabilidade. O homem deve estar sempre em um constante recomeço, seja mudando de emprego, reinventando identidades ou terminando relacionamentos. O grande problema é que esse ciclo de “reinício” traz a promessa de liberdade, mas também gera ansiedade e insegurança, pois impedem a construção de vínculos duradouros e um senso de estabilidade.
Bauman tem sim acertos e erros em sua análise. A mudança constante é um traço distintivo da modernidade líquida. Porém essa inconstância reflete uma crise interna do ser humano contemporâneo que pelo fato de não ser pleno e desenvolvido o suficiente vai se apegar ao hedonismo e buscar o prazer imediato a qualquer custo. Sabemos que o desejo por liberdade irrestrita, quando levado ao extremo, torna impossível construir algo sólido e isso vai gerar a cultura de descartabilidade, tão presente nos produtos de consumo, espalhando-se nas relações humanas e nos compromissos sociais.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.