Trump fecha a USAID: uma decisão que desmascara o ‘poder brando’ americano

06/02/2025 as 12:27 pm

Recentemente, o portal Brasil 247 publicou um artigo da historiadora Monica Hirst intitulado “Os Estados Unidos abandonam o barco de sua própria invenção”, no qual critica a decisão do presidente Donald Trump de suspender o financiamento à Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), com vistas ao seu possível encerramento. Este artigo, no entanto, revela uma visão romântica e, diria, ingênua da política externa americana, especialmente sob uma perspectiva de esquerda.

A historiadora lamenta o que vê como uma retração do “poder brando” americano, mas ignora sistematicamente o verdadeiro papel desta agência na arena internacional. Hirst afirma:

“A partir da administração Trump 2.0, é de se prever uma retração da voz americana no CAD, assim como em diversas agências da OECD. De fato, a predileção pelo unilateralismo implicará uma renúncia ao exercício do poder brando, sem o qual a convivência internacional se tornará especialmente áspera, com enormes prejuízos para o mundo e para a própria sociedade americana.”

Esta análise, porém, está distante da realidade. A USAID, longe de ser um instrumento de “poder brando”, tem sido historicamente um veículo de intervenção direta dos Estados Unidos em países ao redor do mundo. Desde o infame acordo USAID/MEC durante a Ditadura Militar no Brasil até recentes operações no Oriente Médio, América Latina e África, a agência sempre serviu como uma extensão da política de intervenção americana, frequentemente disfarçada sob o manto da “ajuda internacional”.

A USAID esteve envolvida em inúmeros casos de desestabilização política, financiando grupos golpistas, manipulando eleições e preparando o terreno para intervenções mais agressivas. Lamentar o fim de tal instituição é, no mínimo, uma desconexão com a realidade vivida por nações e povos que foram alvo de suas operações.

Hirst parece ignorar que o que ela chama de “poder brando” é, na prática, uma forma de demagogia usada para enganar os incautos. As atividades da USAID em regiões como o Oriente Médio, a América Latina e a África sempre estiveram ligadas a estratégias de pressão contra governos que não alinhavam com os interesses imperialistas dos EUA, muitas vezes culminando na tentativa de derrubá-los.

A organização financiou ONGs que agiram como agentes de desestabilização, forneceu apoio logístico a grupos reacionários e se infiltrou em movimentos sociais, tudo isso sob a capa de benevolência humanitária. Chamar essas ações de “convivência internacional” é um eufemismo que mascara a verdadeira natureza imperialista e intervencionista da USAID.

Portanto, a decisão de Trump de cortar o financiamento e potencialmente encerrar a USAID deve ser vista como uma oportunidade de desmantelar uma das ferramentas do imperialismo americano. Para muitos países e movimentos populares, a ausência da USAID representa não um prejuízo, mas um alívio da constante ameaça à soberania e estabilidade nacional.

A esquerda deveria reavaliar sua posição, reconhecendo que a retirada do “poder brando” americano pode ser um passo em direção a uma verdadeira autonomia e desenvolvimento soberano para muitas nações ao redor do mundo.

Foto: Official White House Photo by Cameron Smith

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