Imagine um líder carismático que rapidamente conquista o coração de uma nação com promessas de prosperidade e justiça. Suas palavras são sedutoras, suas ações iniciais parecem benéficas, mas, aos poucos, ele começa a revelar uma face oculta. A liberdade de expressão é suprimida, os opositores são perseguidos e as leis são manipuladas para consolidar seu poder. Em pouco tempo, esse líder transforma uma sociedade democrática em um regime autoritário, espalhando medo e sofrimento.
Esta situação, embora trágica, não é um cenário fictício. É um padrão repetido ao longo da história, onde indivíduos com traços psicopáticos ascendem ao poder e utilizam suas habilidades de manipulação e falta de empatia para dominar e oprimir. A incapacidade de reconhecer esses traços e entender as raízes do mal na mente humana tem levado a desastres políticos e sociais, com consequências devastadoras para milhões de pessoas.
Neste contexto, a obra “Ponerologia: Psicopatas no Poder” de Andrew Lobaczewski torna-se uma leitura essencial, porque mostra os mecanismos pelos quais personalidades patológicas conquistam e mantêm o poder por meio da mentira e da engenharia social. Lobaczewski faz uma análise profunda sobre a influência de personalidades psicopáticas na política e na sociedade. Com base em suas experiências na Polônia durante regimes totalitários Lobaczewski, propõe que a patocracia — governo dominado por psicopatas — é uma constante histórica. Ele analisa como esses líderes utilizam propaganda, medo e violência para consolidar seu domínio, frequentemente distorcendo valores morais e sociais para legitimar suas ações. Ao mesmo tempo em que descreve vai dissecando e expondo suas raízes e mecanismos de propagação.
No início do livro Lobaczewski e seus colegas aponta que já no início da ocupação soviete na Polônia o grupo pôde observar com preocupação, desapontamento e surpresa que: “Alguns colegas que nos eram próximos, repentinamente, começaram a mudar suas visões de mundo. O padrão de pensamento deles, que bem recentemente tinham sido amigáveis, tornaram-se claramente frios, embora ainda não fossem hostis. Argumentos benevolentes ou de estudantes críticos tornaram-se certos para eles. Eles davam a impressão de possuir algum conhecimento secreto; nós éramos somente os seus ex-colegas, que ainda acreditavam no que aqueles “professores antigos” nos tinham ensinado. Nós precisávamos ter cuidado com o que dizíamos para esses colegas. Esses nossos ex-colegas logo entraram para o Partido”.
Lobaczewski classifica isso com “transpersonificação” e cita ainda que algumas dessas pessoas, mais tarde, tornaram-se fanáticos. Logo por conta disso começa a desenvolver os estudos sobre o que levou a tal mudança de atitude e comportamento e como “Um vampiro caiu em nossos pescoços, sugando o sangue de uma nação infeliz”. Neste caso o Vampiro sendo o Estado Socialista e seus agentes e a Nação infeliz a Polônia ou os outros países da Cortina de Ferro.
No decorrer do livro Lobaczewski afirma que em períodos de bonança o homem se acomoda e perde o interesse pela reflexão profunda, a introspecção e o conhecimento dos outros e de um entendimento das leis complicadas da vida e que esta falta de uma noção da verdade causa uma perca da virtude, sendo assim as pessoas passam a cultuar única e exclusivamente o poder, o dinheiro, o bem estar e a busca da verdade se torna insignificante ou algo acessório.
Ponerologia é uma obra muito relevante no contexto atual, onde observamos um ressurgimento de líderes autoritários ao redor do mundo. A descrição de Lobaczewski sobre a estratégia de demonização dos adversários, a propaganda desenfreada e a manipulação da verdade ressoa fortemente com eventos contemporâneos. Ele oferece uma visão alarmante, mas necessária, sobre como a falta de vigilância e compreensão da natureza psicopática pode levar sociedades inteiras à ruína.
Ao refletir sobre o conteúdo do livro, percebemos que a maldade nos líderes não é apenas um desvio moral, mas um mecanismo estruturado e muitas vezes institucionalizado. A história está repleta de exemplos — de Nero a Hitler, de Stalin a Pol Pot — onde a ambição e a ausência de empatia resultaram em catástrofes humanitárias.
Os psicopatas do poder por sua vez vão usar de meios pedagógicos pérfidos, desinformação da massa e do terror psicológico para convencer a população a: “Concordar em comer um tomate verde e afirmar de maneira totalmente convincente que está maduro”.
Muita semelhança com o nosso ambiente atual onde grupos terroristas invadem países massacrando milhares de pessoas e depois ainda são classificados como organização constituída pela defesa dos mais pobres e gozam do prestígio de países desenvolvidos; Ditadores que encarceram adversários e determinam quem pode ou não concorrer as eleições; Juízes que tomam para si a missão de determinar o que é verdade e passam a perseguir e prender oponentes sem provas cancelando canais e reputações de pessoas e sem aceitarem críticas.
Andrew Lobaczewski foi um psiquiatra polonês que viveu no período da Cortina de Ferro e sentiu na pele a crueldade das ditaturas do Leste Europeu, ele conta que reescreveu o livro três vezes: A primeira, ele teve que jogá-lo na fornalha de seu aquecedor central, após ter sido avisado em cima da hora sobre uma busca oficial que seria conduzida apenas alguns minutos depois. A segunda versão foi mandada para um religioso da Igreja no Vaticano por meio de um turista norte-americano, esta versão também desapareceu. Lobaczewski somente conseguiu publicar o livro quando mudou para os EUA em 1997. Todos os seus pares foram presos ou exterminados, restando a ele recuperar e apresentar ao mundo as conclusões alcançadas nessa corajosa investigação.
Na era moderna, onde o autoritarismo parece ganhar nova força, a mensagem de Lobaczewski é um alerta para todos nós. A compreensão das raízes da maldade, como descrita em “Ponerologia”, é fundamental para a construção de um futuro onde o poder não seja sinônimo de opressão, mas de serviço ao bem comum. Assim, o livro se torna um guia, em parte, para entendermos as raízes do mal na sociedade humana.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
Foto: Reprodução