Nos anos turbulentos da Guerra Fria, a União Soviética cultivou uma ferramenta estratégica tão eficaz quanto oculta: a Desinformação. Anatoliy Golitsyn, um desertor da KGB, revelou em seu livro “Meias Verdades, Velhas Mentiras” o funcionamento da máquina de mentira soviet expondo como a União Soviética, através de narrativas manipuladas e informações falsas, buscava confundir e dividir o Ocidente.
Golitsyn aborda como a União Soviética utilizava táticas de desinformação para manipular a percepção do Ocidente sobre suas políticas internas. O livro mostra como a Desinformação e a mentira se tornaram, em alguns momentos, a principal estratégia soviética jogando uma luz sobre momentos cruciais do período como: A História da KGB e suas operações iniciais; A Nova Política Econômica (NEP); A Guerra Fria e a Desinformação Global e a Desinformação na Era Nuclear.
Golitsyn cita que as dificuldades e obstáculos gerais que surgem no caminho dos estudos ocidentais sobre conhecer de fato o que se passava na URSS se baseava em alguns pilares “Prevenção de vazamento de informações; Criação de serviços de segurança muito poderosos (KGB); Monopólio do Partido e do Estado sobre a mídia e Controle da Embaixada sobre jornalistas estrangeiros e visitantes aos países da Cortina de Ferro.
A NEP (Nova Política Econômica) foi um plano de recuperação econômica da União Soviética após os bolcheviques saírem vitoriosos da Guerra Civil Russa (1918-1921). A NEP consistia na reintrodução do país à economia de mercado. Do ponto de vista de Golitsyn a NEP pode ser vista como parte dessa estratégia de mentira e desinformação, onde o regime bolchevique adotou medidas que pareciam contradizer seus princípios ideológicos para alcançar objetivos mais amplos de consolidação e estabilização do poder, criando uma imagem de flexibilidade e pragmatismo que poderia ser usada para desarmar críticas e ganhar uma trégua temporária em conflitos ideológicos com o Ocidente.
Sem esquecer que a Desinformação criou o serviço de inteligência mais famoso de todos os tempos. A KGB tomou para si a Missão de minar e implodir o Ocidente extrapolando os limites territoriais com uma eficiência e com uma teia de influência no mundo todo, desde intelectuais, governos, universidades, jornais, estúdios de cinema, gravadoras e editoras de livros, ou seja, muitas entidades e movimentos culturais sofreram infiltração do serviço de inteligência soviet.
Porém, essa tática não é uma invenção moderna. Remontando a Sun Tzu, o mestre chinês da guerra que viveu há mais de dois mil anos, já encontramos o uso da desinformação como uma arma crucial em conflitos. Em sua obra “A Arte da Guerra”, Sun Tzu afirmou: “Toda guerra é baseada na decepção.” Ele aconselhava que se enganasse o inimigo para ganhar vantagem, uma filosofia que ressoou ao longo dos séculos e foi aperfeiçoada pela União Soviética.
Golitsyn detalha operações onde verdades parciais eram combinadas com mentiras astutas, criando uma névoa impenetrável de incerteza. Essa estratégia não apenas desestabilizava os governos ocidentais, mas também minava a confiança pública nas instituições. A União Soviética jogava com a percepção, fazendo com que as democracias ocidentais duvidassem de suas próprias informações e decisões.
Avançando no tempo temos a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. Não esquecendo que Putin é o mais puro produto do que restou da URSS, foi agente do serviço secreto soviético, KGB, por 15 anos, sendo o presidente da Rússia desde 2000 fazendo ressoar ecos da era passada. A desinformação moderna, amplificada pelas redes sociais, continua sendo uma arma poderosa. As mesmas táticas de distorção e engano estão em jogo, tentando moldar a percepção global do conflito e desviar as atenções das reais intenções de determinados grupos.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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