Descoberta inédita: HIV permanece dormente no cérebro, revela estudo

20/06/2023 as 9:46 pm

Cientistas descobriram, em um novo estudo, que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode permanecer em estado dormente no cérebro. A microglia, um tipo de célula do sistema imunológico humano, foi identificada como o reservatório persistente desse patógeno. Agora que essa presença foi confirmada, os pesquisadores estão buscando formas de eliminar o vírus do cérebro e de outros locais do corpo.

O HIV é um retrovírus que invade as células humanas hospedeiras, copiando seu material genético. Normalmente, a infecção ocorre em glóbulos brancos específicos, que são essenciais para o sistema imunológico. A perda dessas células, à medida que são destruídas pelo vírus, leva à diminuição da função imunológica e, se não tratada, resulta na síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).

Em alguns casos, porém, as células infectadas pelo HIV entram em um estado de latência, tornando-se dormentes e inativas, podendo permanecer assim por muitos anos. Atualmente, os tratamentos permitem que pessoas com HIV alcancem um estado indetectável do vírus, ou seja, a infecção é controlada e não há mais transmissão do patógeno.

No entanto, as células dormentes ainda estão presentes, embora inofensivas. Isso significa que interromper o tratamento pode permitir que a infecção cause problemas novamente.

A descoberta do HIV no cérebro
Os cientistas já sabiam que as microglias atuavam como reservatório persistente no cérebro, mas não havia como comprovar essa ocorrência. Coletar tecido cerebral é um procedimento difícil, e em pacientes sob medicação antirretroviral, torna-se particularmente arriscado. O programa “The Last Gift” mudou essa situação.

Amostras foram obtidas de pessoas vivendo com HIV que estavam recebendo terapia, mas enfrentando doenças fatais. Além de doar seus corpos para a ciência, essas pessoas concordaram em participar de pesquisas nos últimos meses de vida. Os cientistas analisaram amostras de tecido cerebral doado e também conduziram experimentos em cérebros de macacos-rhesus infectados com o vírus da imunodeficiência símia, que é um parente próximo do HIV.

Ao detectar o DNA do HIV nas microglias coletadas dos tecidos cerebrais, foi possível comprovar que o vírus permanece dormente no cérebro. O próximo passo dos pesquisadores é determinar o tamanho do reservatório cerebral e como o vírus consegue se esconder lá por tanto tempo. Parece que o mecanismo utilizado pelo HIV no cérebro é diferente do que permite sua presença nos glóbulos brancos.

Os cientistas descrevem o HIV como sendo “muito esperto”. O vírus evoluiu para ter controle epigenético de sua expressão, ou seja, consegue silenciar-se para se esconder no cérebro, longe das defesas imunológicas. Com essa descoberta, estamos começando a desvendar como o patógeno é capaz de fazer isso. Compreender o HIV de forma mais profunda pode nos fornecer uma maneira de erradicar sua forma latente e alcançar uma verdadeira cura para essa doença devastadora.

Foto: Freepik

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