Brasil registra mais de 5 mil focos de incêndio em 24 horas, aponta Inpe

10/09/2024 as 10:46 pm

O Brasil contabilizou, nas últimas 24 horas, 5.132 focos de incêndio, o que corresponde a 75,9% do total de ocorrências em toda a América do Sul, conforme relatório do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Cerrado, agora à frente da Amazônia, registrou 2.489 desses focos entre os dias 9 e 10 de setembro.

Ane Alencar, diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e reconhecida especialista em fogo, expressou sua preocupação com a antecipação do período crítico de incêndios, tradicionalmente mais intenso nos últimos meses do ano. “A gente está numa situação muito difícil, até porque não sabe como serão os próximos meses. Não queremos que seja como foi o fim do ano passado, quando em outubro a situação piorou na Amazônia, principalmente em novembro e dezembro, e a chuva só começou em janeiro. Então, fico muito preocupada com será depois de setembro”, disse Alencar, rememorando os severos incêndios de finais do ano passado.

Este ano, a intensificação dos incêndios se deve a uma combinação de fatores, incluindo fenômenos climáticos como El Niño e La Niña, o aquecimento global e atividades humanas. “Eu acho que no Brasil, normalmente, já tivemos secas muito fortes na Amazônia, em uma parte do Cerrado, na região central do país, mas pegando vários biomas ao mesmo tempo, eu acho que é uma das primeiras vezes. É quase uma tempestade perfeita, onde o clima é o motor para propagar o fogo que ocorre a partir das queimadas”, explicou a pesquisadora.

No estado de São Paulo, a situação também alcança níveis críticos. Enquanto isso, no Cerrado, incêndios devastaram 10 mil hectares do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e levaram à interdição de pontos turísticos no Mato Grosso. Apesar disso, a Parquetur, administradora do uso público de algumas unidades de conservação, garante que as visitações em Goiás continuam seguras e são essenciais para sustentar a economia local.

Segundo Alencar, embora a seca seja um fator contributivo para os incêndios, a ignição é sempre humana, frequentemente relacionada à renovação de pastagens ou à conversão de terra para uso agrícola. “Para que haja um fogo, tem que ter faísca, que é essa primeira fonte de ignição, e ela é iniciada pelo ser humano, por diversos motivos. Mas os principais, eu diria, porque a gente está falando de uma região muito grande, os principais são o uso do fogo para renovação de pastagem e o uso do fogo na prática de conversão do solo, na prática de desmatamento”, ressaltou.

Os incêndios têm impactos na qualidade do ar e na saúde pública, afetando também a economia e a biodiversidade. O Ministério da Saúde já mobilizou a Força Nacional do SUS para apoiar os estados e municípios mais afetados. “Tem impactos que vão desde a perda de biodiversidade, de material genético que a gente até desconhece, a diminuição da capacidade de recuperação dessas áreas, que ficam mais suscetíveis a outros incêndios. Isso faz com que se tenha uma perda de serviço ecossistêmico, principalmente de água, mas também de retenção de carbono, por exemplo. Outra questão é do calor mesmo, sabemos que a floresta tem papel importante no conforto térmico”, afirmou Alencar, destacando a redução dos serviços ecossistêmicos, como a retenção de água e carbono.

Alencar enfatiza a necessidade de maior conscientização sobre os riscos e consequências dos incêndios. “Do jeito que estamos vivendo essa crise, os contingentes governamentais, sejam eles da esfera federal, estaduais, ou municipais, não serão suficientes para conter o que está ocorrendo, a não ser que haja o engajamento da sociedade”, alertou a especialista.

Foto: 29/10/2019/Chico-Ribeiro/Governo Mato Gross

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