Pobres e Ricos

28/09/2025 as 1:28 pm

Ao lermos os Santos Evangelhos encontramos Jesus operando milagres e curas. É o que mais gostamos de ler. Porém há trechos que talvez não gostemos muito de encontrar, mas que não podemos ignorar. São aqueles que denunciam as injustiças econômicas e sociais, sempre causadas pelo uso errado das riquezas. Um exemplo nos é oferecido pela parábola trazida neste domingo pelo evangelista Lucas em 16,19-31.

Tem dois protagonistas, Lázaro, paupérrimo e o rico que esbanja riqueza. Este último é imagem dos que, despreocupados com tudo e com todos, só pensam em curtir a vida. Lázaro, por sua vez, é a imagem de quem fracassou na vida. Os pobres, assim se pensava na época de Jesus e assim se pensa ainda nos nossos dias, são responsáveis, de alguma forma, da situação que estão vivendo. Porém, podemos notar que Jesus não pensava nestes termos. Pelo contrário, cancela radicalmente esta ideia mostrando que a preferencia de Deus é reservada aos pobres. É bonito ver que o pobre da parábola, contrariamente do rico que é um sem-nome, tem um nome: Lázaro, que quer dizer “Deus ajuda”. A Lázaro é reservado um lugar “junto de Abrãao”, no reino de Deus.

A solidariedade de Jesus para com Lázaro e para com todos os Lázaros deste mundo (a imensidão de pessoas que vivem, ou melhor, que sobrevivem em condição sub-humana) pega da parábola o caráter da indignação e da denúncia. Vale lembrar que Jesus não contou essa história só para chamar a atenção dos ricos egoístas e para pedir compaixão dos Lázaros esquecidos, mas para nos lembrar que esta é uma situação que não pode ser aceita por ninguém, tampouco por quem acha que tem uma alma para salvar. Jesus denuncia a existência de dois mundos separados e fala de um grande abismo que os divide. Existe a possibilidade de colocar em comunicação estes dois mundos? Jesus na parábola sugere: “pratiquem a Lei e os Profetas”. A Lei é explicita: ”amarás teu próximo como a ti mesmo”. Para aproximar as duas beiras do abismo não podem ser gastas só palavras, nobres sentimentos, declarações de intenções, desejos e promessas, mas sim gestos concretos de partilha em nome da justiça e da misericórdia. Fala-se muito em taxar os super-ricos em favor do bem comum, mas nada está sendo feito. Fala-se muito do perdão das dívidas dos Países pobres do planeta, que vivem numa miséria escandalosa, mas nada foi feito até agora. A terra é de Deus. Deus não pode tolerar que as riquezas continuem sendo aproveitadas por ricos que só deixam as migalhas que caem da mesa para tantos Lázaros.

Padre Daniel Curnis – Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, em Manaus

Foto: reprodução

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