ADPF das Favelas transformou o Rio em base do Comando Vermelho, diz secretário

31/10/2025 as 4:57 pm

O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ), Felipe Curi, afirmou nesta sexta-feira (31), em entrevista coletiva, que as restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por meio da “ADPF das Favelas” contribuíram para a expansão do Comando Vermelho (CV) em praticamente todo o país. A declaração foi feita ao detalhar os resultados da megaoperação deflagrada na última terça-feira (28), que resultou em 113 prisões e 121 mortes.

Segundo Curi, a disseminação da facção criminosa é consequência direta das limitações impostas às ações policiais nas comunidades do Rio de Janeiro desde 2020. “Temos que fazer uma constatação de que a PCERJ alertou há 5 anos: com o advento das restrições às operações, a Polícia Civil fez dois relatórios onde alertamos que essas restrições levariam ao fortalecimento do crime organizado, no aumento das disputas territoriais, de barricadas, além disso as favelas se tornariam bases operacionais do crime organizado e convidativo para que lideranças de outros estados viessem para cá. Alertamos e hoje está aqui a constatação disso”, declarou.

A “ADPF das Favelas”, oficialmente Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, estabeleceu regras para operações policiais no estado. Em junho de 2020, o ministro Edson Fachin, relator do processo, determinou a suspensão de ações durante a pandemia, exigindo a comunicação prévia ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), a instalação de câmeras corporais nos uniformes dos agentes e o veto ao uso de helicópteros. Parte dessas medidas foi derrubada apenas em abril deste ano. Atualmente, o caso está sob relatoria temporária do ministro Alexandre de Moraes, que pediu explicações ao governador Cláudio Castro (PL-RJ) sobre a operação.

Durante a coletiva, Curi afirmou que “os complexos da Penha e do Alemão, até aquela ocupação de 2010, eram o QG do CV apenas aqui no estado do Rio de Janeiro”. Segundo ele, as duas comunidades se tornaram o centro de comando nacional da facção. “Essa constatação de hoje mostra que passaram a ser o QG do Comando Vermelho em nível nacional. São destes complexos que partem todas as ordens, decisões e diretrizes da facção para todos os outros estados, praticamente todos os estados do Brasil”, afirmou o secretário, destacando ainda que as favelas se transformaram em centros de distribuição de armamentos, com movimentação mensal de 50 a 70 fuzis.

Curi informou que, entre os 113 presos, 54 possuem antecedentes criminais e todos tiveram a prisão preventiva decretada em audiência de custódia. Em relação aos 117 mortos, 99 foram identificados, dos quais 42 tinham mandados de prisão em aberto e 78 apresentavam histórico de crimes como homicídio, tráfico e roubo. “Ou seja, tivemos narcoterroristas neutralizados de quatro das cinco regiões do país, só não tivemos da região Sul”, destacou.

Entre os mortos, 40 eram de outros estados: 13 do Pará, 7 do Amazonas, 6 da Bahia, 4 do Ceará, 1 da Paraíba, 4 de Goiás, 1 do Mato Grosso e 3 do Espírito Santo. O secretário confirmou também a prisão de líderes do Comando Vermelho de diferentes estados, como “Pepê”, chefe do tráfico no Pará; “Chico rato” e “Gringo”, do Amazonas; “Mazola”, de Feira de Santana (BA); “DG” e “FB”, também da Bahia; Fernando Henrique dos Santos, de Goiás; “Rodinha”, de Itaberaí e Goiânia; e “Russo”, de Vitória (ES).

Foram presos ainda Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”, um dos chefes do CV, e Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como “Belão do Quitungo”, descrito como o “01 da comunidade do Quitungo”.

O secretário destacou que a identificação de criminosos de outros estados segue em andamento devido à falta de integração entre bancos de dados policiais. A investigação conta com apoio da Polícia Federal e integra o “escritório extraordinário” criado na quarta-feira (29) em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Durante a operação, as forças de segurança apreenderam 91 fuzis, 26 pistolas, um revólver, uma tonelada de drogas e detiveram 10 menores de idade. O secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, informou que quatro agentes morreram durante os confrontos, sendo dois policiais civis e dois integrantes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Um delegado teve uma perna amputada, e outros três policiais permanecem internados em estado grave.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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