Há um fascínio inegável nas páginas de Honoré de Balzac, um autor cuja pena pintou vívidos retratos da sociedade do século XIX. Imagine-se transportado para aquela era, onde a França estava em efervescência pós-revolucionária e a busca por fama e fortuna era desenfreada. Foi nesse cenário que Balzac criou sua monumental obra, “A Comédia Humana”, um verdadeiro repositório de livros e histórias.
Balzac, ao longo de duas décadas entre 1820 e 1844, produziu uma coleção impressionante de 89 livros, um feito que poucos escritores conseguiram igualar. Talvez apenas Isaac Asimov, no gênero da ficção científica, tenha alcançado uma marca semelhante. Durante esse período, ele construiu um painel colossal da sociedade francesa e europeia, com 17 volumes, mais de dez mil páginas e cerca de dois mil e quinhentos personagens, entrando e saindo de suas histórias como atores em um palco infinito.
Dentre esses personagens e histórias, muitos se destacam, imortalizados na cultura ocidental. “Mulher de Trinta Anos”, “O Pai Goriot” e “As Ilusões Perdidas” são apenas alguns exemplos. Mas quero levá-lo a uma jornada particular, por uma das obras sustentáculos da Comédia Humana, “A Pele do Onagro”.
Neste romance, acompanhamos Raphael de Valentin, um jovem ambicioso apaixonado por Fédora, mas que se encontra arruinado após perdas em jogos de azar. À beira do desespero, ele pensa em suicídio. Contudo, em sua busca por uma saída, ele encontra um antiquário e adquire parte da pele de um onagro, um jumento. Essa pele, ele descobre, tem o poder de conceder desejos ao seu proprietário, mas a cada desejo realizado, ela encolhe, e a vida de Valentin também diminui.
Valentin aceita esse pacto sem pensar duas vezes, mergulhando na alta sociedade parisiense, onde seus desejos são realizados enquanto a pele do onagro diminui e seu tempo de vida também. Mas como tudo na vida, há um preço a pagar. O enredo é uma fascinante exploração da busca insaciável por poder e prazer.
O que torna “A Pele do Onagro” ainda mais cativante é o fato de que Balzac injetou muito de sua própria ambição e desejo por fama e sucesso nas páginas deste romance. O mito da fortuna, beleza e poder foi uma constante na literatura do século XIX, e este romance, como muitos outros da época, apresenta uma forte temática faustiana, onde um jovem faz um pacto com o diabo para alcançar sucesso e riqueza.
Além disso, Balzac inaugurou o que hoje chamamos de “universo compartilhado” na literatura, onde personagens de diferentes histórias se cruzam e interagem, ocupando posições sociais diferentes em situações diversas. Algo que ainda influencia roteiristas de cinema e televisão.
A Comédia Humana de Balzac é uma verdadeira maratona literária, com algumas versões contendo mais de 90 livros. Isso demonstra o incrível esforço criativo do autor. Portanto, convido você a explorar não apenas “A Pele do Onagro”, mas também outras obras desse mestre da literatura.
Embarque nessa jornada literária única nas profundezas das histórias do século XIX, e descubra por que Honoré de Balzac continua a ser uma referência inestimável para apreciadores de boa literatura.
Agradeço por me acompanhar nesta viagem ao passado, e não deixe de voltar na próxima semana para mais uma coluna cheia de novidades e insights literários. Até breve!
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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