Quando folheamos as páginas da história literária, raramente encontramos uma obra que se erga tão imponente quanto um palácio na Praça Vermelha em Moscou. “Doutor Jivago,” escrito por Boris Pasternak, é esse palácio literário, um edifício imortal que abriga não apenas personagens complexos, mas também as sombras e luzes da Revolução Soviética. Enquanto muitos conhecem essa história por sua adaptação cinematográfica, mergulhar nas palavras de Pasternak é um exercício que nos transporta para um mundo turbulento e nos apresenta a um painel humano marcado pela luta entre ideais revolucionários e a força inabalável do amor.
A narrativa de “Doutor Jivago” se desenrola durante os anos tumultuados da Revolução Bolchevique, uma época em que as paixões ferviam nas ruas de Moscou e Petrogrado. É crucial entender esse contexto histórico para apreciar plenamente a profundidade da obra. A Revolução Soviética, liderada pelos bolcheviques, virou a Rússia de cabeça para baixo, transformando-a de uma nação imperial em um estado comunista. Essa convulsão social é a tela de fundo na qual Pasternak pinta seu retrato.
No centro da narrativa está Yuri Jivago, um médico e poeta de origem burguesa, e Lara Antipova, uma mulher de origens humildes que encontra força nas adversidades. Enquanto o mundo ao seu redor é dilacerado pela revolução, Yuri e Lara embarcam em um relacionamento marcado por encontros e desencontros apaixonados. Seu amor proibido é o fio condutor que tece essa história complexa.
“Doutor Jivago” transcende a mera narrativa de romance e revela camadas profundas de significado. A obra de Pasternak aborda a implacável burocracia do Estado Soviético, a perseguição aos dissidentes e a luta entre sentimentos pessoais e a causa revolucionária. Em um momento em que a Revolução Soviética estava no auge, Pasternak se atreveu a explorar as complexidades da alma humana, contrapondo o individualismo à máquina estatal.
Para apreciar completamente “Doutor Jivago,” devemos também olhar para a vida de seu autor. Boris Pasternak era um poeta talentoso que, como seu personagem principal, lutou contra a tempestade revolucionária que engolfou sua nação. Suas experiências pessoais moldaram a narrativa do livro, e seu enfrentamento com a rejeição do Estado Soviético é uma história fascinante por si só.
A jornada de “Doutor Jivago” para o reconhecimento foi tão tumultuada quanto a narrativa que contém. Proibido na União Soviética, o livro encontrou refúgio na Itália em 1957. A versão cinematográfica de David Lean, dez anos depois, elevou a obra a um status ainda maior de notoriedade. Boris Pasternak foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, mas o governo soviético o proibiu de aceitá-lo.
“Doutor Jivago” é um tesouro literário que nos permite viajar no tempo e mergulhar na alma da Revolução Soviética. É uma história de amor proibido que transcende as páginas e nos lembra da resistência do espírito humano. É uma obra que se recusa a ser esquecida, e sua influência na literatura e no cinema ecoa até os dias de hoje. Convido você a se perder nas palavras de Boris Pasternak e a descobrir, ou redescobrir, essa obra-prima da literatura.
Espero que tenha apreciado esta viagem literária. Nos vemos na próxima semana para mais aventuras culturais em minha coluna.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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