Tenho estado muito feliz falando sobre amor. Procuro me deixar invadir pelo amor sempre que posso. No entanto, hoje escolho falar sobre a escuridão que carregamos dentro de nós. Todos temos nosso lado obscuro, que muitas vezes escondemos de nós mesmos. Acredito que este lugar esteja relacionado ao medo.
Mesmo que hoje escolha deliberadamente ser feliz e me cercar de amor e do que me faz bem sempre que possível, nem sempre foi assim. Muitas vezes me puni e me machuquei. Adolescentes são desengonçados por natureza, e eu nem era tão desengonçada, mas me sentia assim. Sentia-me estranha e inadequada. Aliás, a sensação de inadequação me assombrou por muitos anos até que a percebi, aceitei e hoje temos um diálogo mais amplo.
Em nome dessa inadequação, já fiz muitas coisas. Já tomei muitos remédios para emagrecer, por exemplo. Já passei alguns dias sem comer, baseando minha alimentação apenas em uma bebida gaseificada estimulante de nome fácil. Por isso, ganhei até os parabéns do médico. Já tentei várias vezes expulsar a dor que sentia, mas ela nunca saía por completo, tentando vomitar a dor para fora, mas ela permanecia. Alguns remédios a mais na esperança de que a dor fosse embora, mas ela também permanecia. Tenho algumas marcas físicas dessa época, meu corpo aprendeu (e nunca mais esqueceu) certos reflexos quase involuntários e mecânicos, que eu preferiria não lembrar. Minhas lembranças às vezes me levam a esses dias sombrios em que me olhava no espelho e não via quem realmente era. Isso é muito louco! A bulimia é uma experiência triste, em última análise. Os outros veem uma mudança física, veem sorrisos, veem vaidade e orgulho. Sou muito boa em esconder certas mazelas em nome da busca pela adequação ao meio, em me adaptar ao ambiente. Aprendi a não ser reativa, mas sim a analisar o próximo passo. No entanto, essas experiências me fizeram ser o que sou.
A maternidade me salvou desse lugar escuro. Ter um filho trouxe um brilho resplandecente e um novo ânimo. Deus me resgatou ali. Busquei ser a melhor versão de mim mesma a partir de então. Busquei a felicidade para ensinar a alguém, meu filho, como se faz! A partir desse momento, deixei de buscar me adequar e comecei a aceitar quem sou. Deixei de ser apenas eu para ser o lar de alguém. E, dessa maneira, transformando a dor em amor, iniciei o resgate de mim mesma.
Luciana Medeiros Especialista em gestão estratégica, observadora do comportamento humano e da vida.
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