Brasil é destaque negativo em ranking sul-americano da fome

27/10/2025 as 5:21 pm

O Brasil foi incluído entre os oito países mais afetados pela fome na América do Sul, conforme apontado pelo Índice Global da Fome (GHI) 2025, divulgado em outubro pelas organizações Welthungerhilfe e Concern Worldwide. O relatório, que analisa a situação da segurança alimentar em diversos países, atribuiu ao Brasil 6,4 pontos, enquadrando o país na categoria de “fome baixa”. Apesar da colocação, o índice reflete avanços recentes, como a retirada do Brasil do Mapa da Fome da ONU após três anos.

A Bolívia lidera o ranking regional, com 14,6 pontos e classificação de “fome moderada”. Em seguida, aparecem Trinidad e Tobago (11,0), Equador (10,9), Suriname (10,4), Venezuela (9,6), Guiana (8,3) e Peru (7,2). O Brasil divide a oitava posição com a Argentina, ambos com 6,4 pontos, à frente de Colômbia, Paraguai, Chile e Uruguai. Os países com melhor desempenho no continente são Chile e Uruguai, com índices inferiores a 5 pontos.

O GHI utiliza quatro indicadores principais para mensurar a gravidade da fome: desnutrição calórica na população geral, atraso no crescimento de crianças, baixo peso infantil em relação à altura e mortalidade infantil. A combinação dessas variáveis permite a comparação entre países e regiões, revelando tanto os avanços quanto os retrocessos na segurança alimentar global. No caso brasileiro, a melhora observada é resultado de políticas públicas de alimentação, programas de transferência de renda, maior cobertura social e recuperação econômica.

No entanto, o relatório alerta que o progresso é desigual. Em países como a Bolívia, a insegurança alimentar permanece elevada, especialmente em áreas rurais e indígenas. A população dessas regiões enfrenta desafios como acesso precário a alimentos, eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, e dificuldades estruturais de mercado. A “dupla carga da má nutrição” também é um problema: além da subnutrição, cresce o número de casos de obesidade e sobrepeso.

O Brasil registrava 11,6 pontos no índice nos anos 2000 e atingiu sua melhor marca em 2016, com 5,4 pontos. Em 2025, o país apresenta 6,4 pontos, o que representa um leve aumento, mas ainda o mantém fora do Mapa da Fome da ONU. O retorno ao mapa havia ocorrido no triênio 2019-2021. Segundo critérios da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), países com mais de 2,5% da população em situação de subnutrição grave são incluídos no mapa. Atualmente, o Brasil apresenta uma taxa inferior a esse limite, com 3,4% da população em insegurança alimentar grave e 13,5% em insegurança alimentar moderada.

O panorama global, no entanto, é mais preocupante. O GHI 2025 destaca que a fome no mundo entrou em estagnação. A média global caiu apenas de 19 pontos, em 2016, para 18,3 neste ano. A meta da ONU de erradicar a fome até 2030 já é considerada inalcançável. Conflitos armados, mudanças climáticas, inflação dos alimentos e cortes na ajuda humanitária estão entre os fatores que dificultam o progresso.

Casos alarmantes, como os da Somália (42,6), Sudão do Sul (37,5) e República Democrática do Congo (37,5), indicam níveis críticos de fome. Por outro lado, países como China, Costa Rica, Chile e Uruguai mantêm pontuações abaixo de 5 pontos, demonstrando sucesso em garantir segurança alimentar à população. Segundo projeções do relatório, se a tendência atual persistir, a erradicação da fome só seria possível em 2137, ultrapassando em mais de um século a meta estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Foto: Arquivo/Agência Brasília

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