Alfredo Filho

O carro voador e o futuro que ainda não decolou

REDAÇÃO

16/05/2025 as 8:55 pm

Toda geração tem sua obsessão futurista. A dos anos 80 sonhava com skates voadores, a nossa mira… o carro voador. E não é que ele está finalmente ganhando forma? A Klein Vision, empresa eslovaca que mais parece saída de um roteiro de ficção científica, anunciou que pretende colocar no mercado, já em 2026, o AirCar — um híbrido curioso entre carro e avião, capaz de voar a até 250 km/h e atingir mais de 3 mil metros de altitude. Tudo isso com um design que mistura Fórmula 1 com caça da Força Aérea. Convenhamos: é impossível não se impressionar.

Agora, vamos aterrissar um pouco. Mas eu preciso perguntar: estamos diante de uma revolução concreta ou de mais um bom storytelling para investidores e sonhadores do LinkedIn?

O AirCar tem motor de 280 cavalos (com versões futuras que podem chegar a 340), pesa 800 quilos, custa a bagatela de R$ 4,5 milhões e transporta duas pessoas. Sim, apenas duas. Com esse valor, aqui no Brasil, você compra um apartamento com vista e garagem — para um carro que, veja bem, não precisa sair do chão. Claro, a ideia de usá-lo como táxi aéreo em grandes centros é interessante. Mas esbarra em três palavrinhas mágicas: regulação, infraestrutura e segurança. Sem falar na mais essencial — confiança. Aquele frio na barriga que muita gente já sente ao entrar em um elevador veloz vai ganhar um novo patamar quando for você e o motorista do AirCar cruzando os céus do centro da cidade com um cabo USB tremendo no painel.

É evidente que o marketing por trás disso é brilhante. Vende-se uma visão de futuro, uma ruptura com o trânsito caótico, um novo status de mobilidade. E, sim, isso encanta. Porque ativa um imaginário antigo, aquele que nos fez sonhar com os Jetsons e De Volta para o Futuro. A comunicação é bem construída, com estética de inovação e promessa de liberdade aérea, mas ainda distante da nossa realidade — especialmente no Brasil, onde buraco de rua segue sendo tratado como um problema do século passado.

Ainda assim, não dá para ignorar que esse tipo de projeto aponta para onde o mercado de mobilidade quer chegar — e vai, cedo ou tarde. O AirCar não vai substituir o seu SUV tão cedo, mas é um símbolo do que pode vir. Cabe às marcas, montadoras e agências entenderem como se posicionar nesse futuro que já começou a ser contado em pixels, asas retráteis e vídeos promocionais impecáveis.

No fim das contas, o carro voador pode não ser para você — ainda —, mas certamente já mexeu com o seu imaginário. E isso, por si só, já é um baita trabalho de marketing.

Na próxima semana, seguimos juntos explorando os movimentos do setor automotivo. Te espero. Até lá!

Alfredo Filho – Consultor de marketing automotivo, apaixonado por carros. Nos últimos dez anos de sua carreira profissional, participou do desenvolvimento de campanhas de comunicação e marketing.

Foto: Klein Vision / Divulgação

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