Caso Benício: Polícia apura falsidade ideológica de médica por uso de carimbo de pediatria sem registro

15/12/2025 as 3:06 pm

A médica Juliana Brasil, investigada pela morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, ocorrida em 23 de novembro no Hospital Santa Júlia, em Manaus, utilizava carimbo com a indicação de pediatria sem ter a especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. A informação foi confirmada pelo delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), que apura se houve dolo eventual na conduta da profissional. Conforme informações do G1, Juliana pode responder por falsidade ideológica, uso de documento falso e homicídio doloso.

Segundo a investigação, Juliana Brasil assinava documentos utilizando a referência à pediatria sem possuir o título de especialista. “Todas as regulamentações do Conselho Federal de Medicina indicam que o médico que não possui uma especialização não pode se identificar de nenhuma forma, com nenhuma referência a uma especialidade que ele não possui, e ela fez isso”, afirmou o delegado. Ainda de acordo com ele, a conduta configura dois crimes distintos: “Isso configura o crime de falsidade ideológica e o uso de documento falso. A investigação prossegue agora também com relação a esses dois crimes, além do homicídio doloso por dolo eventual”.

Benício foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Segundo o pai, Bruno Freitas, a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa. A família questionou a técnica de enfermagem sobre a via de administração e foi informada de que o medicamento seria aplicado conforme a prescrição médica. Após a primeira aplicação, o menino teve uma piora súbita, foi encaminhado à sala vermelha e, posteriormente, transferido para a UTI, onde sofreu múltiplas paradas cardíacas durante a intubação e morreu às 2h55 do domingo.

A técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, responsável pela aplicação da adrenalina, disse à Polícia que apenas seguiu a receita e mostrou o documento à mãe do menino antes de aplicar o medicamento. Ainda conforme o G1, duas profissionais de enfermagem, Francineide Macedo e Tabita Costa, afirmaram em depoimento que esconderam a prescrição original por temerem que a médica alterasse o documento após o erro.

A médica admitiu o erro em mensagem enviada ao médico Enryko Queiroz e em documento encaminhado à Polícia Civil, mas sua defesa alegou que a confissão foi feita “no calor do momento”. Os advogados também afirmaram que Juliana Brasil é formada desde 2019, atua legalmente na área e pretendia realizar a Prova de Título da Sociedade Brasileira de Pediatria ainda em dezembro.

O Hospital Santa Júlia não se manifestou sobre o fato de Juliana atuar como pediatra sem o título. A unidade informou apenas que afastou a médica e a técnica de enfermagem e que realizou uma investigação interna por meio da Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.

Na sexta-feira (12), a Justiça do Amazonas revogou o habeas corpus preventivo que havia sido concedido à médica. A Polícia segue colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer as circunstâncias do atendimento e possíveis responsabilidades criminais.

Foto: Reprodução/Imagens do sistema de segurança do Hospital Santa Júlia

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