Região amazônica concentra quase metade dos conflitos rurais no Brasil nas últimas décadas

26/07/2025 as 5:53 pm

Lançado na última segunda-feira (21), durante congresso em São Luís (MA), o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro revelou que a Amazônia concentrou 44% dos mais de 50 mil conflitos rurais registrados no Brasil entre 1985 e 2023. O levantamento, elaborado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), aponta que a expansão do agronegócio e da mineração sobre terras públicas e devolutas tem impulsionado disputas por território, afetando principalmente indígenas, quilombolas e camponeses.

Segundo a publicação, a maior parte dos casos na região amazônica está ligada à disputa por terra (84%), seguida por ocorrências de trabalho escravo (8,9%) e conflitos relacionados à água (7,1%). A CPT ressalta que, desde 2008, a Amazônia passou a concentrar mais da metade dos conflitos registrados a cada ano, atingindo o ápice em 2016, com 57% do total nacional.

O Pará lidera o ranking de ocorrências. Entre os dez municípios mais conflituosos do país, sete estão no estado, com destaque para Marabá (548 registros), São Félix do Xingu (394) e Altamira (288). Também aparecem na lista as capitais Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Macapá (AP).

O Atlas mostra ainda que a Amazônia responde por dois terços das mortes decorrentes desses conflitos. Das 2.008 vítimas fatais registradas no período analisado, 66,8% foram assassinadas na região. O Pará também lidera em número de homicídios (612), tentativas de assassinato (420) e ameaças de morte (1.597). A região concentra o maior número de massacres, definidos pela CPT como episódios com três ou mais mortes, totalizando 50 casos e 259 vítimas. O Pará é responsável por 26 dessas ocorrências.

As populações indígenas e quilombolas estão entre as mais impactadas. No caso dos povos indígenas, foram registradas 4.559 ocorrências desde 1985, sendo mais da metade (2.501) apenas nos últimos cinco anos. Quase todos os casos (92%) envolvem disputa territorial. Entre 2004 e 2023, 135 indígenas foram mortos em conflitos no campo, sendo 52% desses assassinatos na Amazônia.

Já os quilombolas enfrentaram 430 ameaças de morte desde 2000, ano em que a CPT passou a registrar separadamente os conflitos envolvendo essas comunidades. Nesse período, foram identificados 3.017 episódios com participação de quilombolas, incluindo 74 ocupações, 216 manifestações e dois acampamentos.

O Maranhão lidera em número de localidades quilombolas (2.025) e também em registros de conflitos nessas áreas (977). Em seguida aparecem a Bahia, com 1.814 localidades e 339 registros, e Minas Gerais, com 979 localidades e 212 ocorrências.

Foto: Divulgação/Ministério das Comunicações

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