Mais uma vez, amargamos uma derrota da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Em meio a várias opiniões que estão viralizando na rede, senti-me confortável em falar um pouco sobre o assunto cultural que envolve o futebol feminino no Brasil. Algo relativamente novo para os brasileiros, que devem, com o tempo, se acostumar com a dinâmica do jogo e as peculiaridades do esporte, afastando a comparação injusta e desnecessária com o futebol masculino.
Em meio a tantas críticas e tanta desinformação, o que há de se entender é que o futebol feminino já é uma realidade pujante em outros países. Nos Estados Unidos, o soccer feminino, como eles chamam, tem tradição na prática e já está culturalmente aceito pelos norte-americanos. Atualmente, elas detêm o maior número de títulos em Copas do Mundo feminina, conquistados em 1991, 1999, 2015 e 2019, um sucesso consolidado.
Parte desse sucesso se dá pela tradição criada naquele país. Enquanto o futebol americano, o beisebol ou o basquete são redutos eminentemente masculinos por lá, a seleção feminina de futebol é uma potência há décadas, dominando o ranking mundial. Em uma comparação grosseira, se sobrepõe em número de títulos à seleção masculina de futebol, compatriota, que nem de perto empolga os torcedores.
Acontece que o sucesso tem muito a ver com a ligação entre o esporte e os espectadores. Todos esquecem que qualquer esporte é para a mídia que transmite um produto, e como tal não pode fugir da regra básica de mercado: “oferta e procura”. É isso que baliza os investimentos comerciais de forma geral, incluindo patrocinadores, investimentos públicos, privados e até interesse na participação de novos atletas.
Longe de qualquer discussão politizada e sem sentido, temos no Brasil exemplos de que podemos construir uma nova história esportiva. Quando olhamos para o vôlei, vemos uma imagem construída de sucesso. O esporte atrai sempre a mesma atenção do público brasileiro, seja qual for a seleção que esteja jogando, independentemente de quem esteja em quadra, seja estrelas consagradas ou novos nomes. Se é a seleção feminina ou masculina, o vôlei rompeu essas barreiras, tornando-se um esporte pragmático.
Ser adepto do pragmatismo é ser prático, realista e sem rodeios. Aquele que considera o valor prático como critério da verdade. Logo, o que deve se intensificar é o treino, o empenho e a atuação profissional no esporte, chamando a atenção dos espectadores, que irão buscar o produto que, por sua vez, chamará a atenção das mídias. William James, filósofo principal do pragmatismo, afirmou que as emoções não são produto dos sentimentos, mas sim provocadas pela tomada de consciência de reações orgânicas, resumindo o que o filósofo diz, trata-se de um jogo de causa e efeito, simples.
Devemos todos, portanto, construir um caminho distinto para o futebol feminino brasileiro, dissociado do já consagrado futebol masculino. Apesar de ser o mesmo esporte, eles se distinguem nas dinâmicas e, principalmente, no que se refere à tradição histórica. Devemos convergir a tradição do futebol para que se estabeleça uma nova cultura. A busca pelo esporte deve impulsionar a mídia, tornando o produto objeto de consumo. Com isso, tudo que permeia e que hoje falta ao esporte será alcançado de forma natural, sem que seja necessário o desgaste de discussões dicotômicas que, além de não levar à solução, ainda atrasam a mesma.
É sempre um prazer compartilhar essas reflexões com vocês. Não deixem de visitar a minha coluna na próxima semana. Estaremos de volta com mais novidades. Até lá!
Diogo Augusto , o turco, marido, pai, empreendedor, colecionador, pensador, curioso.
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