Domingo: aquele dia que a pressa esqueceu (mas o Wi-Fi não perdoa)

07/09/2025 as 2:51 pm

Caros leitores,

Nosso editorial é para ser sempre aos domingos, mas ando corrido! E talvez por isso mesmo, justo hoje, me bateu uma saudade cínica e bem-humorada dos domingos de antigamente, aqueles que pareciam patrocinados por frango na brasa, refrigerante de garrafa e barulho de crianças na rua.

Até acordei, levantei e lembrei do cheiro do café. Só faltava escutar “Amanheceu, peguei a viola, Botei na sacola e fui viajar”, vindo da TV da sala. Mas foi só um pensamento rápido.

Nos anos 1980, domingo era um ritual sagrado. A família se reunia em volta da mesa como quem se preparava para um conselho de anciãos: tinha frango assado, maionese, farofa e, invariavelmente, um tio que jurava que “dessa vez o Vasco ganhava”. A missa de manhã servia para purificar a alma e para garantir o papo do almoço. E a televisão, coitada, ainda era de tubo, mas transmitia milagres: Som Brasil, Os Trapalhões, Chacrinha, futebol e Fantástico.

Hoje, domingo é só mais um slide da apresentação de PowerPoint chamada “vida moderna”. Alguém ainda lembra como era passar um domingo sem notificação, sem a voz da Alexa perguntando se você quer ouvir Bruno Mars, sem uma influencer tentando te vender um curso de produtividade emocional? Duvido.

O problema não é a tecnologia. É a overdose dela. Ela chegou para facilitar e, como todo veneno eficiente, vem em dose homeopática. Agora, dita nosso humor, nossos encontros, nossas saudades e, claro, nossos domingos. A família continua em volta da mesa, mas cada um de cabeça baixa, orbitando seu próprio planeta digital. A avó disputa atenção com o TikTok. O cachorro late para o drone.

Lembra das praças, dos clubes, das praias, do dominó na calçada? Foram todos substituídos por Wi-Fi de 5 GHz e promoções do AliExpress. Hoje, o domingo é útil. Cheio de tarefas, lives, filas para o café e promessas de começar a dieta na segunda. A vida virou um calendário de metas e, cá entre nós, ninguém mais sabe o que é ócio, só burnout.

E por que isso importa? Porque, como dizia Aristóteles, o ócio é essencial à contemplação. Era no domingo que o brasileiro pensava sobre a vida, o país e até no que faria se ganhasse na loteria. Hoje, pensa se dá tempo de ver aquela série antes de dormir. Troque o culto por um tutorial no YouTube e pronto: temos o domingo líquido, digital, pós-moderno e apressado.

Não é saudosismo barato. É um alerta. O domingo de antigamente não era perfeito, mas tinha cheiro, som e pausa. Hoje, nossos sentidos foram substituídos por algoritmos. Perdemos o tédio e, com ele, a introspecção. E sem introspecção, meu caro leitor, tudo vira ruído.

Portanto, se você ainda tiver um pouco de bateria (do celular e da alma), proponho um desafio: desconecte-se. Ao menos por algumas horas. Ouça seu filho, abrace sua mãe, queime o arroz, leia um jornal (ainda existe) que manche os dedos. Deixe o domingo ser domingo, e não apenas mais um anúncio patrocinado no seu feed.

Porque, no fim, talvez o que esteja nos matando não seja a falta de tempo, mas a falta de domingos de verdade. Lembre-se: o mais importante são os momentos; o almoço é apenas uma desculpa para a reunião da família.

Um abraço nostálgico, com o celular no modo avião.

Editor!

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