Valor e destino final do nosso corpo

17/08/2025 as 12:28 pm

A Igreja católica nesse domingo celebra Maria, mãe de Jesus, assunta ao céu. A assunção de Maria é um mistério que convida a contemplar o valor e o destino do nosso corpo. Todo o cristianismo na verdade, religião da Palavra feita carne, é uma celebração da nossa corporeidade. A encarnação nos fala do desejo de Deus que, desde o início de tudo, quis ter um corpo como nós. Em Maria, que corre da prima Isabel, tem um embrião de carne no qual pulsa todo o mistério de Deus. E a nossa é a única religião que teve a ousadia de colocar o corpo na profundidade mais oculta da vida de Deus. Porque será que Deus se apaixonou tanto do nosso corpo até o ponto de querer ele perto de si nos espaços sem limites onde se move e respira a presença invisível do Espírito? Talvez a resposta a podemos encontrar no encontro de Maria e Isabel, que lemos no evangelho de Lucas. Duas mulheres, uma na frente da outra, dois braços que se estendem para abraçar e dois braços que respondem à saudação, duas criaturas em embrião que no seio das duas futuras mães comunicam secretamente entre elas, com uma cambalhota de exultação por parte do futuro precursor. Depois, a voz que flui em expressões de afeto, de louvor, de celebração.

É maravilhosa esta liturgia que se expressa através do corpo. Neste corpo, tão pequeno, vive e se revela um universo de afetos e desejos: a generosidade, a compaixão, a esperança, a vontade de se abraçar e de andar juntos, mão na mão, de se conhecer, de conceber e de dar à luz uma criança. Nesse corpo, tão pequeno, pode morar também a infinita grandeza de Deus. É no corpo que Deus e o homem se encontram. Nós às vezes cremos que Deus se deixa encontrar lá onde o corpo termina e tem quem fez o elogio da morte como caminho para chegar a Deus. Na verdade, o corpo não é destinado a se tornar espírito, mas é o Espírito que decidiu revelar-se através do corpo. As pessoas são presença de Cristo, as coisas são presença de Cristo e Cristo é o corpo de Deus no nosso meio.

Porém, existe uma dimensão que não podemos esquecer ao considerarmos o corpo. Trata-se da dimensão humana. O corpo que sente cansaço, sofrimento, finitude. Tem corpos sedentos, famintos, doentes, aprisionados, vítimas da violência. Se o corpo de uma mulher grávida, como o de Maria, é um hino à vida, o corpo de muitas pessoas, em particular daquelas que chegaram no fim da existência, parece entoar um cântico de morte. Onde está então a eterna solidariedade de Deus com a carne humana? O apóstolo Paulo fala de um gemido que sobe de toda a criação, também das realidades que são feitas de matéria e de carne corruptível. Este gemido Deus o escuta. A prova? O corpo de Maria associado à Ressureição de Cristo. Era justo que a vida daquela que foi inseparavelmente ligada àquela de Cristo compartilhasse também a Ressurreição. É o que irá acontecer também conosco se saberemos estar unidos a ele na fé. Devemos, portanto, olhar ao nosso corpo não só com um sentimento de tristeza por aquilo que o aguarda, mas com a esperança daquilo que irá ser. Não devemos alimentar saudades, mas nos preparar à Ressurreição.

Padre Daniel Curnis – Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, em Manaus

Foto: reprodução

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