Hoje, trago para vocês uma pérola da literatura americana que, mesmo após décadas de sua publicação, continua reverberando com sua intensidade e profundidade: “Absalão, Absalão!” de William Faulkner. Como alguém que viveu a efervescência do indie rock e viu de perto as transformações culturais das últimas décadas, posso afirmar que Faulkner nos oferece uma obra que é um verdadeiro desafio, mas igualmente recompensador.
A Guerra Civil Americana, esse conflito que deixou cicatrizes profundas na alma da nação, é o pano de fundo para Faulkner explorar a queda de uma dinastia sulista. Através da saga de Thomas Sutpen, um homem que emerge das cinzas com um sonho quase mitológico de construir um império, Faulkner nos confronta com as ambiguidades morais e os custos humanos de tal ambição.
Sutpen, com seu desejo ardente de forjar uma linhagem e estabelecer-se como uma figura dominante, representa a encarnação da determinação e da vontade de poder. Mas é a maneira como sua história é contada que transforma este romance em uma obra de arte incomparável. Faulkner utiliza uma estrutura narrativa fragmentada, entregando a história por meio de várias perspectivas, cada uma revelando camadas adicionais de complexidade tanto nos eventos quanto nas personalidades envolvidas.
Este método narrativo, longe de ser um mero exercício estilístico, serve para ilustrar como a verdade pode ser multifacetada e elusiva, especialmente quando filtrada através das lentes da memória e do preconceito. Quentin Compson, um dos narradores, luta para montar o quebra-cabeça da família Sutpen, mostrando-nos como a história é frequentemente uma reconstrução, um mito moldado tanto pelos vencedores quanto pelos perdedores.
“Absalão, Absalão!” vai muito além de ser apenas um romance sobre o Sul ou a Guerra Civil. É uma exploração profunda dos temas de racismo, ambição, isolamento, conflito familiar e o eterno desejo humano por legado e reconhecimento. Faulkner nos desafia a refletir sobre o preço da grandeza e as ilusões da honra e do orgulho.
Para aqueles que desejam aprofundar-se na obra de Faulkner , recomendo também “O Som e a Fúria” e “Luz em Agosto”. Esses romances, juntamente com “Absalão, Absalão!”, oferecem uma visão abrangente do universo de Yoknapatawpha County, onde Faulkner desdobra sua visão crítica e complexa da sociedade americana.
Em suma, “Absalão, Absalão!” é uma obra que resiste ao tempo, provocando uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a história. É um convite para explorar as profundezas de uma das mentes literárias mais brilhantes do século XX. E como sempre digo, a literatura é um espelho através do qual podemos ver as verdades mais profundas de nossa existência.
Não deixem de mergulhar nesse universo faulkneriano e, claro, fiquem atentos para a próxima coluna aqui no FATO 360 na próxima semana. Até lá, continuem explorando as riquezas da literatura e expandindo os horizontes do conhecimento.
Paulo Albuquerque – Formado em Tecnologia Florestal, instrutor de informática e conectado em Literatura, Sci-Fi e Cultura Pop.
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