Em nossa conversa de hoje, vamos falar um pouco de história, para contextualizarmos os acontecimentos que vem tomando conta de nossas vidas na última semana, após a fala desastrosa, do Presidente Lula sobre Israel, onde o mandatário brasileiro comparou os ataques israelenses no conflito que ocorre em Gaza com as atrocidades nazistas, sofridas pelo povo judeu. É confuso entender, se não com alguma cultura, a proximidade do povo judeu com o Brasil, apelando para um pouco de história, no decorrer da nossa conversa vamos observar que os laços são mais estreitos que uma simples relação, seja qual for, entre países.
Após a segunda guerra mundial, conflito marcado pelo extermínio de seis milhões de judeus, a Assembleia Geral das Nações Unidas, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, em 1947, tomou a histórica decisão da partilha que levou à criação do Estado de Israel em 1948 com este ato iniciamos um pungente laço com o nascente Estado de Israel, sendo o Brasil um dos primeiros países a reconhecer o Estado de Israel seguindo para os tramites de oficialização já em 1951 foi criada a Legação do Brasil em Tel Aviv, elevada posteriormente, em 1958, à categoria de Embaixada. Também em 1951, Israel inaugurou sua Embaixada no Brasil no Rio de Janeiro sendo, posteriormente, transferida para Brasília, demonstrando, assim, a irmandade entre as Nações.
Com o passar dos anos as trocas foram as mais diversas a relação Brasil e Israel deu frutos em vários aspectos:
Na tecnologia, os países compartilham uma longa história de intercâmbio nas áreas técnica, científica e tecnológica. Desde os anos 1960, Israel contribui para o desenvolvimento da agricultura do semiárido, por meio da difusão de técnicas de irrigação em regiões do Nordeste brasileiro. Podemos falar também no desenvolvimento de tecnologias de segurança da informação e defesa, onde ambos o país tem acesso as descobertas e aplicabilidade do que se desenvolve. Atualmente no setor aeronáutico, os dois dos maiores projetos da Força Aérea Brasileira (FAB) dependem de tecnologia israelense para seu prosseguimento.
Na cultura, podemos destacar o intercâmbio cultural que prosperou com grande influência do Tropicalismo e da Bossa Nova à musica israelense, oportunidade em que muitas músicas brasileiras foram traduzidas para o hebraico – e por curiosidade destaco que o último show ao vivo do Maestro Tom Jobim ocorreu em Jerusalém.
Ainda na cultura, pois considero a arquitetura identidade visual de um povo, temos o mestre brasileiro Oscar Niemeyer que passou um período em Israel momento em que projetou várias obras, dentre elas a Universidade de Haifa. Ainda no quesito arquitetura Israel tem participado ativamente de eventos culturais brasileiros como as bienais de arquitetura.
A cultura popular brasileira segue bem recebida em Israel com escolas de capoeira e música instaladas no país, bem como bienais de arte, festivais de cinema, feiras literárias etc.
Nas relações comerciais, o Brasil é um grande exportador de alimentos para Israel oportunidade que é um grande importador de tecnologias daquele país, essa nos mais variados modos, desde soluções para área médica até para equipamentos bélicos de uso militar.
Segundo a embaixada de Israel no Brasil há vinte anos atrás, só haviam 5 empresas israelenses com representação no Brasil, hoje há cerca de 150 empresas israelenses no país. Este alto número de empresas israelenses que já se estabeleceram no Brasil mostra o grande aumento do interesse de Israel no mercado brasileiro.
A maioria dessas 150 empresas israelenses localizadas no Brasil é de alta tecnologia em diversas áreas como: Agro tecnologia (42 empresas), Telecomunicações e TI (42 empresas), Produtos e Tecnologias de Segurança (24 empresas), Equipamentos Médicos (17 empresas) além de empresas em outras áreas como Equipamentos Elétricos, Aviação e Veículos Aeroespaciais, Energia e outras. (fonte embaixada de Israel).
Nas questões humanitárias, podemos lembrar, a ajuda que Israel nos forneceu na tragédia de Brumadinho, no dia seguinte ao acontecido, um avião sai de Israel com 130 militares para ajudar nas buscas. Na pandemia o governo de Israel foi um dos primeiros aliados a oferecer ajuda ao governo brasileiro, demonstrando a parceria, mesmo em meio a uma pandemia.
E é por todo esse histórico de boa relação entre esses dois países que não podemos entender nem minimizar a fala do atual Presidente brasileiro, atacando Israel e seus líderes, a comparação com o maior carrasco do povo judeu é como cuspir no rosto de cada um judeu que teve um parente na lista daqueles 6 milhões, dentre eles homens, mulheres e crianças que morreram sem qualquer motivo, morreram simplesmente por serem judeus.
O desconhecimento e a falta de tato com o assunto é no mínimo temerário, relações entre países tão ligados não pode ser interrompida por um ato irresponsável e que de modo algum representa o que a maioria dos brasileiros pensa sobre o conflito e as decisões tomadas por Israel após ser covardemente atacada.
Para finalizar nossa conversa, quero lembrar as palavras do escritor francês Victor Hugo, escritor, estadista e ativista pelos direitos humanos, “a ingratidão é um dos vícios mais odiosos que existem, pois revela a falta de caráter e de consideração pelas pessoas que nos ajudam e apoiam”, como não sou ingrato nem mal caráter peço perdão a Israel, a fala do Presidente do Brasil não reflete meu sentimento. Aguardo todos na próxima semana. Até lá!
Diogo Augusto , o turco, marido, pai, empreendedor, colecionador, pensador, curioso.
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