EDITORIAL

A santa incoerência da direita baré

REDAÇÃO

11/05/2025 as 12:37 pm

Caros leitores,

Se Jesus voltasse hoje e resolvesse visitar o plenário — não o templo, veja bem — da direita amazonense, talvez saísse de lá inclinado a votar nulo. O que se presencia, ou melhor, o que se escuta nos bastidores e nas colunas, é uma direita fervorosa… mas devota apenas de si mesma.

Os discursos seguem ungidos com palavras como “família”, “moral” e “valores cristãos”. Na prática, porém, o que se vê são fiéis do altar eleitoral em guerra aberta, numa disputa de vaidades, soberba e holofotes. Não há unidade, tampouco projeto — e a humildade parece ter ficado no Antigo Testamento. No Novo, restou só o Testamento Político: aquele em que cada um tenta herdar o espólio do outro antes mesmo do enterro.

Nesse purgatório de egos, destacam-se justamente os que deveriam mediar o debate público: alguns jornalistas que, de tanto “plantar nota”, já poderiam ter um canteiro com nome próprio. Em vez de apurar os fatos, transformam redações em confessionários seletivos, onde o pecado é de quem não é “amigo”. Bastidores viram manchetes, intrigas ganham status de análise, e o jornalismo — aquele com “J” maiúsculo — cede espaço ao cochicho disfarçado de opinião.

Sim, há quem se diga imparcial enquanto carrega a Bíblia em uma mão e pedras na outra. Maquiavel, se visse isso, exigiria direitos autorais.

E no meio disso tudo está a direita que se autodeclara cristã. Mas, a julgar pelas atitudes, esse cristianismo parece mais próximo de Judas do que de Jesus. Ser cristão não é postar versículo nas redes sociais. É lembrar, por exemplo, que Cristo expulsou os vendilhões do templo — não os premiou com cargos no céu.

É curioso como esses guardiões da moral são velozes para atacar os seus ao menor sinal de ameaça à própria ambição. A direita do Amazonas, que poderia ser uma força coesa e propositiva, tornou-se uma colcha de retalhos onde cada um tenta costurar seu próprio brasão. Alianças? Só se forem seladas com a faca entre os dentes.

Enquanto isso, a população assiste a esse teatro de vaidades como quem acompanha uma novela ruim: torcendo para acabar logo, mas sem muita fé num final digno.

Faltam coerência, humildade e, sobretudo, grandeza. Porque gritar “Deus, Pátria, Família” entre uma articulação e outra para derrubar o colega não faz de ninguém um estadista — faz uma caricatura. Daquelas que nem o Pasquim, nos seus dias mais ousados, se atreveria a ilustrar.

Se a direita quer ser levada a sério — no Amazonas ou em qualquer outro canto — talvez seja hora de voltar ao básico: ao Sermão da Montanha, ao ideal de bem comum e, quem sabe, à velha ideia de fazer política por vocação, e não por vaidade.

Um abraço crítico — e que Deus nos salve, se ainda for possível.

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